Arte da lama de Mariana

Em 5 de novembro de 2015, ocorreu a maior tragédia ambiental brasileira, com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG, liberando 55 milhões de metros cúbicos de lama e minérios que varreram parte do município. 19 pessoas morreram e duas ainda continuam desaparecidas. Mas o pior legado foi o que sobrou da tragédia. Histórias e registros perdidos para sempre, vidas sem passado, comunidades sem futuro. Terras e águas atravessando parte do país, envenenadas até o oceano.

Mariana5

Rastros da lama me árvores de Mariana. Foto de Alex Takaki.

Mariana3

Um dos retratos feitos por Tolentino, com a lama de Mariana. Vídeo do projeto “A Arte Nunca Esquece”. Duração: 1:50

Mas A Arte Nunca Esquece. Este é o nome do projeto criado pela Panamericana Escola de Arte e Design, trazendo de volta ao debate público a tragédia de Mariana. O artista plástico Marcelo Tolentino visitou a região coberta pela lama e conheceu as histórias de quem perdeu tudo na maior tragédia ambiental ocorrida no Brasil. A lama que devastou a cidade foi transformada em arte sob a forma de retratos das vítimas de Mariana.

Mariana4

Outdoor em rua de Brasília, sobre o projeto “A Arte Nunca Esquece”.

Mas o projeto está indo além. Para que a obra chegasse ao público certo, os retratos estão sendo expostos nas ruas de Brasília, numa espécie de exposição a céu aberto, próxima ao Congresso Nacional. Assim, os políticos que estiveram ausentes nas duas sessões da Comissão Parlamentar da Câmara dos Deputados que, em março, discutiriam o caso de Mariana, ambas canceladas por falta de quórum, estão sendo lembrados da tragédia que nunca sairá da memória de suas vítimas. Fonte de informações: clique aqui.

Mariana1

Instalação de Haroon Gunn-Salie, representando parte dos destroços de uma casa soterrada pela lama de Mariana.

Outro projeto envolvendo a tragédia de Mariana é o intitulado “Agridoce“, com instalações do artista sul africano Haroon Gunn-Salie. Ele foi ver de perto o local do desastre, tendo passado um mês no que sobrou do lugar soterrado em novembro de 2015. Diz Haroon: “Uma questão que todo mundo pensava era o som da lama. Ninguém consegue descrever muito bem, mas pessoas se lembram do barulho líquido, pedaços de bambu se quebrando, o grito dos bichos”. Ele conta que primeiro tentou comprar as ruínas da casa agora na exposição, mas acabou ganhando os destroços de uma moradora que fazia questão que o mundo visse de perto o que aconteceu ali. Informações sobre a exposição: clique aqui.

Mariana2

Fotografia de Christian Cravo, do livro “Mariana”.

O livro recém-lançado “Mariana“, com fotografias de Christian Cravo, no instituto Tomie Ohtake/SP, também traz lembranças da lama da tragédia ocorrida há pouco mais de seis meses. O fotógrafo trouxe para o livro a cor avermelhada do minério de ferro e o ocre do barro que cobriu toda a cidade mineira. Suas fotos retratam os vestígios de vida no meio da lama: um sapato de mulher, um fogão, pedaços de móveis. “Não é preciso mostrar a desgraça carnal para narrar o drama humano. Você pode mostrar todo o drama sem a confusão, o desespero, a tristeza da carne.” Mais fotos, clique aqui.

Retratos, outdoors, instalações, livros.  Alguns dos primeiros registros artísticos desta monumental tragédia, que jamais poderá ser esquecida.

Autor: Catherine Beltrão

Comente