Artemisia e o feminismo no século XVII

Quando se começa a pesquisar sobre o feminismo, o que encontramos é que sua origem data do século XIX, com o direito de sufrágio por parte das mulheres. Mas será que não teria havido nenhum movimento feminista antes disso?

O que não se pode negar é a atitude de algumas mulheres no decorrer da História, assumindo um poder feminino inexistente nas sociedades em que viviam. Uma dessas mulheres é Artemisia  Gentileschi (1593-1653), pintora barroca italiana, considerada hoje uma das mais bem-sucedidas pintoras de sua época, junto de Caravaggio.

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“Maria Madalena em êxtase”, 1611 ou 1613/20, óleo sobre tela, 81,0 X 105,0 cm

Mas quem foi Artemisia Gentileschi, raramente apresentada em cursos de História da Arte?

Artemisia foi tutelada durante anos pelo seu pai. Mais tarde, a artista passou para as mãos de um outro pintor da época, Agostino Tassi, que a estuprou. Mas ela levou seu caso para julgamento, e após ser torturada psicologicamente e questionada, seu estuprador foi sentenciado. Este talvez tenha sido o primeiro caso de estupro público, com o veredicto favorável à mulher.

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“Susana e os Velhos”, de 1622

Artemisia é considerada uma artista barroca fortemente influenciada por Caravaggio. Em suas obras, é possível identificar características como o realismo e o uso dramático do chiaroscuro (claro-escuro), uma técnica de pintura caracterizada pelo jogo de contrastes estabelecidos pela utilização de cores claras e escuras. Ela fez alguns autorretratos e pintou mulheres fortes e sofredoras, que aparecem em diversas histórias da Bíblia.

Uma de suas obras mais conhecidas é o “Autorretrato tocando violão“, de 1615/17.  Na verdade, o instrumento representado na obra não é um violão e sim um alaúde…

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“Autorretrato tocando violão”, 1615/17. Óleo sobre tela, 77,5 × 71,8 cm

Outro autorretrato da mesma época,  o intitulado “Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria“, de (1614/16), foi vendida recentemente por €2,360,600 em 19/12/2017, na casa de leilões Drouot, em Paris.

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“Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria”, de 1614/16

Mais um de seus autorretratos, “Alegoria da Pintura“, de  1638/39, Artemisia representa a si própria ao lado de tintas e fazendo uso de um pincel, enquanto efetivamente emprega o ato de pintar.

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“Autorretrato como Alegoria da Pintura”, de 1638/39. Óleo sobre tela, 98,6 × 75,2 cm.

Quanto às mulheres bíblicas, fortes e sofredoras, três são destacadas na obra de Artemisia: Maria Madalena, Judith e Susana.

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“Judith decapitando Holofernes”, 1614/20

Assim como Caravaggio, Artemisia também fez sua “Maria Madalena em Êxtase“.  Esta obra foi vendida por $1,179,832, em 2014, na Sotheby’s de Paris.

A obra “Judith decapitando Holofernes” é talvez a mais conhecida de Artemisia. Trata-se de um tema recorrente na obra da pintora: o general assírio Holofernes é decapitado por Judith que, com esse ato, libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos.

Em “Susana e os Velhos“, Artemisia procurou na Bíblia uma história parecida com a sua. Susana era uma bela e jovem esposa de um rico judeu do século VI a.C. Ela sofre um assédio de dois velhos que frequentam a sua casa, surpreendendo-a no banho e exigindo que ela se submeta aos seus desejos sob pena de a difamarem. Susana resiste, é julgada e condenada. Posteriormente, o juiz Daniel reabre o processo e devido às contradições dos depoimentos dos acusados, prova a inocência de Susana e provoca a condenação dos velhos à morte.

Assunto polêmico: será que, algum dia, a obra de Artemisia irá superar a de Caravaggio, assim como a de Camille Claudel  está sendo considerada maior que a de Rodin?

    Autor: Catherine Beltrão

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