Quando se começa a pesquisar sobre o feminismo, o que encontramos é que sua origem data do século XIX, com o direito de sufrágio por parte das mulheres. Mas será que não teria havido nenhum movimento feminista antes disso?
O que não se pode negar é a atitude de algumas mulheres no decorrer da História, assumindo um poder feminino inexistente nas sociedades em que viviam. Uma dessas mulheres é Artemisia Gentileschi (1593-1653), pintora barroca italiana, considerada hoje uma das mais bem-sucedidas pintoras de sua época, junto de Caravaggio.
Mas quem foi Artemisia Gentileschi, raramente apresentada em cursos de História da Arte?
Artemisia foi tutelada durante anos pelo seu pai. Mais tarde, a artista passou para as mãos de um outro pintor da época, Agostino Tassi, que a estuprou. Mas ela levou seu caso para julgamento, e após ser torturada psicologicamente e questionada, seu estuprador foi sentenciado. Este talvez tenha sido o primeiro caso de estupro público, com o veredicto favorável à mulher.
Artemisia é considerada uma artista barroca fortemente influenciada por Caravaggio. Em suas obras, é possível identificar características como o realismo e o uso dramático do chiaroscuro (claro-escuro), uma técnica de pintura caracterizada pelo jogo de contrastes estabelecidos pela utilização de cores claras e escuras. Ela fez alguns autorretratos e pintou mulheres fortes e sofredoras, que aparecem em diversas histórias da Bíblia.
Uma de suas obras mais conhecidas é o “Autorretrato tocando violão“, de 1615/17. Na verdade, o instrumento representado na obra não é um violão e sim um alaúde…
Outro autorretrato da mesma época, o intitulado “Autorretrato como Santa Catarina de Alexandria“, de (1614/16), foi vendida recentemente por €2,360,600 em 19/12/2017, na casa de leilões Drouot, em Paris.
Mais um de seus autorretratos, “Alegoria da Pintura“, de 1638/39, Artemisia representa a si própria ao lado de tintas e fazendo uso de um pincel, enquanto efetivamente emprega o ato de pintar.
Quanto às mulheres bíblicas, fortes e sofredoras, três são destacadas na obra de Artemisia: Maria Madalena, Judith e Susana.
Assim como Caravaggio, Artemisia também fez sua “Maria Madalena em Êxtase“. Esta obra foi vendida por $1,179,832, em 2014, na Sotheby’s de Paris.
A obra “Judith decapitando Holofernes” é talvez a mais conhecida de Artemisia. Trata-se de um tema recorrente na obra da pintora: o general assírio Holofernes é decapitado por Judith que, com esse ato, libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos.
Em “Susana e os Velhos“, Artemisia procurou na Bíblia uma história parecida com a sua. Susana era uma bela e jovem esposa de um rico judeu do século VI a.C. Ela sofre um assédio de dois velhos que frequentam a sua casa, surpreendendo-a no banho e exigindo que ela se submeta aos seus desejos sob pena de a difamarem. Susana resiste, é julgada e condenada. Posteriormente, o juiz Daniel reabre o processo e devido às contradições dos depoimentos dos acusados, prova a inocência de Susana e provoca a condenação dos velhos à morte.
Assunto polêmico: será que, algum dia, a obra de Artemisia irá superar a de Caravaggio, assim como a de Camille Claudel está sendo considerada maior que a de Rodin?