As três orquídeas de Edith e de Cecília

Um tanto quanto difícil foi escolher o tema do primeiro post do ano que se inicia. Percorri algumas alternativas e resolvi me decidir por flores, e mais especificamente, as orquídeas de Edith Blin (1891-1983) e de Cecília Meireles (1901-1964).

Já escrevi sobre As flores de Edith neste blog. Naquele texto, eu já tinha apresentado uma das suas orquídeas, a obra “Orquídea, rosas e violão“.

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“Orquídea, rosas e violão”, ost, 73 X 60cm, 1952.

Edith pintou somente três obras com orquídeas, ou melhor, com uma orquídea.  Amarela. E as três obras foram pintadas em 1952.

Infelizmente, não conheço a história destas obras. Mas, com certeza, sua criação deve ter sido motivada por uma linda história. Me atrevo a dizer que foi uma única história, pois a flor é única e a data também.

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“Orquídea amarela com rosas I”, ost , 70 X 70cm, 1952

Também sei que Edith, frequentemente, transformava sua emoção em pinturas. E quando recebia flores que a emocionavam, ela pintava sua emoção. Deve ter sido o caso. E a emoção deve ter sido grande, pois pintou três vezes a mesma flor…

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“Orquídea amarela com rosas II”, ost, 56 X 42cm, 1952

 

As três orquídeas de Cecília Meireles não eram amarelas. Eram brancas. E perfumaram seu último poema, escrito no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, em agosto de 1964…

“As três orquídeas”

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Cecília Meireles

As orquídeas do mosteiro fitam-me com seus olhos roxos.
Elas são alvas, toda pureza,
com uma leve mácula violácea para uma pureza de sonho triste, um dia.

Que dia? que dia? dói-me a sua brevidade.
Ah! não vêem o mundo. Ah! não me vêem como eu as vejo.
Se fossem de alabastro seriam mais amadas?
Mas eu amo o terno e o efêmero e queria fazer o efêmero eterno.

As três orquídeas brancas eu sonharia que durassem,
com sua nervura humana,
seu colorido de veludo,
a graça leve do seu desenho,
o tênue caule de tão delicado verde.
Que elas não vêem o mundo, que o mundo as visse.
Quem pode deixar de sentir sua beleza?
Antecipo-me em sofrer pelo seu desaparecimento.
E aspira sobre elas a gentileza igualmente frágil,
a gentileza floril
da mão que as trouxe para alegrar a minha vida.

Durai, durai, flores, como se estivésseis ainda
no jardim do mosteiro amado onde fostes colhidas,
que escrevo para perdurares em palavras,
pois desejaria que para sempre vos soubessem,
alvas, de olhos roxos (ah! cegos?)
com leves tristezas violáceas na brancura de alabastro.

As flores sempre inspiraram  artistas, pintores e poetas. Ou qualquer um que tenha alma sensível como os artistas, pintores e poetas. E é com esta inspiração em forma de pintura-orquídea e poema-orquídea que brindo o ano de 2015 com você, amiga e amigo leitor!

Autor: Catherine Beltrão

 

 

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