Ateliers e versos… (Parte II)

Prosseguindo a trilogia, apresento a Parte II de ateliers de alguns artistas que amo, e mais alguns versos meus. Desta vez, os versos são direcionados a pessoas que, de fato, existiram. Não existem datas, por motivos óbvios.

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Atelier de Salvador Dali

Nervos entreabertos

Estou hoje como estou sempre
Perdida entre meu corpo e tua mente
Solta no tempo mas presa no espaço.

O sentimento se move em minha cabeça
Percorre meus nervos entreabertos
À espera do pranto e do orgasmo.

Os contatos se sucedem em retrocesso
Até onde a vida possa ser tocada,
Até onde possas alcançar minha fé.

Espero deste instante a não-poesia
A certeza de um minúsculo infinito
Invadindo o meu ser até as extremidades.

Não fujo do delírio que se instala.
É a minha aceitação do presente
A ser repartido nos momentos próximos.

Vem a energia, a explosão, a agonia.
É o futuro que se expande
Embebido de magia violentada.

Atelier_Pollock

Atelier de Jackson Pollock

Poesia e vontade

Eu não queria.
Já havia consumido estrelas
Por toda uma eternidade de reflexão.
Já havia acostumado a noite
À presença de um corpo só:
Solidão.

Eu não queria.
Palavra que não queria.
Mas teu olhar,
Teu sorriso,
Tuas mãos
Voltaram.
De novo sinto
Acima e abaixo,
Dentro e fora,
Todas as coisas
Que são infinitas.
Como antes,
Teu silêncio não para de me emocionar
E de me confundir.
Sou feita de sonhos
E de pensamentos.
Como nunca,
Quero viver de uma vez só:
De poesia e vontade.

Atelier_Basquiat

Atelier de Jean-Michel Basquiat

Como um pássaro

Teu pensamento transcende o espaço
E se perde nas ligações
Do tempo com a vida.
Foges da inércia
Perseguido pelo som
Que dentro de ti germina.
Com o coração já totalmente gasto
Segues o sinal do vento
Qualquer que seja sua direção.
Sofres pela indecisão
Entre o incerto e o impossível.

Sinto-te como um pássaro
À procura de orvalho
À espera do voo sem fim.
Sinto-te imerso no vácuo
O olhar tênue disperso
Numa proposta de loucura.
Sinto-te estranhamento terno
Ao vires me buscar
Em algum nível de tristeza.

Atelier_Matisse

Atelier de Henri Matisse

O que somos

 Vieste cheio de olhares e abraços
Me oferecer um fim de tema
Me expandir para dentro
De teus pensamentos…
Eu te recolhi cheia de lágrimas
Para as madrugadas de meu corpo
Para a música consumida
De punhos cerrados.

Somos a eternidade
Refeita em sons.
Somos bebida que transforma
Sorrisos em loucuras.
Somos o contato entre
Intervalos e tons.
Somos a derradeira prece
Do último homem.

Atelier_Miro2

Atelier de Joan Miró

Tempos idos

A magia do teu toque me encanta
Qual carícia, corte, abraço e espanto.
Teu som me penetra as peles
Pelos pelos e poros atentos.
A emoção contida explode
Em lembranças de tempos em transe.

Os tempos são idos
Em que éramos embalados
Por segredos e medos.
Os tempos são outros
Em que somos acordados
Por restos de antigos sonhos.

O sentimento não se mede
Nem no tempo nem no espaço,
Tem jeito de onda eterna
Que vai e vem no aconchego
De um pedaço de mar e o rochedo
De um recado teu e o meu medo.

Dali, Pollock, Basquiat, Matisse e Miró: grandes nomes da arte do século XX. Que mexem com a angústia de todos nós.

Autor: Catherine Beltrão

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