Carnaval e quase cinzas… de Edith Blin

Hoje ainda é Carnaval. Amanhã já serão cinzas.  Cinzas de um tempo que não volta. Cinzas de uma alegria que já se sentiu. Cinzas de uma arte que um dia foi criada. Cinzas de um carnaval de Edith Blin.

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“Carnaval”, de Edith Blin. 1945, ost, 65 X 49cm

A obra – “Carnaval” ou “Folia Carnavalesca” – é de 1945. Setenta anos, pois. A artista, Edith Blin (1891-1983), é francesa. Mas a tela foi pintada no Brasil. Época pós-guerra. Liberdade na França. Alegria no Brasil. Alívio no mundo.

A cada ano, após o carnaval, as cinzas são recolhidas. Das cinzas, a cada ano, a festa se renova. O carnaval se transforma, brilhando nas avenidas e sujando as ruas. E as cinzas se repetem. Vida que segue…

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Matéria de “O Dia”, em 06.05.1945, escrita pelo crítico Lopes da Silva.

 

Mas as “quase cinzas” do título se referem ao que está acontecendo com a obra, esta ou qualquer outra, de Edith. Aos poucos, dos seus carnavais só restarão cinzas, que não irão mais se repetir em próximos anos. Assim como não existirá mais o seu livro de recortes, com dezenas de matérias jornalísticas de épocas que não voltam mais. A imagem acima mostra um recorte de uma matéria publicada em maio de 1945 no jornal “O Dia“, escrita por Lopes da Silva, um dos maiores críticos de arte da época, intitulada “A arte forte de Edith Blin”:

[….] Agora, decorridos dois anos sobre sua primeira exposição individual, Edith Blin prepara-se para apresentar-se novamente ao público da metrópole. Dois anos de pesquisa e de trabalho bem norteado, traduzidos num punhado de telas esplêndidas que, por deferência especial da artista gaulesa, nos foi dado ver numa destas tardes mornas e brilhantes que só o Rio oferece, – serão um filme surpreendente para os amantes da boa pintura. Edith Blin avançou extraordinariamente. Está pintando com maior vigor, exteriorizando em seus trabalhos a força interior que tanto a distingue.   […] À técnica, ao colorido sempre palpitante, Edith Blin junta uma vibração, uma emotividade e um sentimento de poesia, envolventes à estruturação de todos os seus quadros. E alteia-se, assim, bem digna do relevo artístico que galardoa os cultores da arte de Gauguin, em sua esplêndida e gloriosa França“.

Na matéria, Lopes da Silva cita Gauguin. Paul Gauguin (1848-1903), artista francês, cuja obra “Quando você vai se casar?”, de 1892, tornou-se há alguns dias atrás a obra de arte mais cara no mundo, vendida por US$ 300 milhões.

Outros posts sobre Edith Blin neste blog:

Os 129 retratos“, “De como o pintor andarilho fez nascer a pintora da alma“,  “Palhaço, pelúcia e bonecas… não precisa ser Natal“,  “As três orquídeas de Edith e de Cecília“,  “As flores de Edith“,  “As maçãs de Cézanne e as uvas de Edith“,  “Edith Blin e a Resistência Francesa“,  “Maquis, de Edith Blin (1891-1983)“,  “Os pierrôs de Edith Blin“, “Os nus de Edith Blin“,  “As bailarinas em pastel de Degas e Edith Blin“,  “Paris!” e  “Praia de Ipanema há mais de 60 anos, segundo Edith Blin“.

Autor: Catherine Beltrão

 

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