Da série “Quase cinzas de uma obra permanente”: exposição de 46

Edith_expo46.2

Capa do convite da exposição de 1946, no Palace Hotel

Em junho de 1946, Edith Blin (1891-1983) fez sua terceira exposição, no Palace Hotel, à Av. Rio Branco, 185, no centro do Rio de Janeiro. Foram dezenas de publicações nos jornais da época. Em seu book de recortes de jornais, encontramos ainda parte destas relíquias, amareladas pelos quase setenta anos decorridos.

Edith_expo46.1

Matéria de Lopes da Silva: “A próxima exposição de Edith Blin”

Lopes da Silva, um dos grandes críticos de arte na época, escrevia a matéria “A próxima exposição de Edith Blin“:

No dia 16 do corrente, Edith Blin fará sua quarta (terceira) exposição individual apresentando seus últimos trabalhos no salão nobre do Palace Hotel. A admirável figurista, cuja técnica é das mais vigorosas, firmou-se entre nós como uma das mais distintas pintoras, quer pela sensibilidade que personaliza sua arte, quer pela potencialidade que marca sua maneira de pintar, denunciando uma força interior digna de nota. Filha da velha França, Edith Blin aqui ratificou-se há um punhado de anos e, desde então, vem trabalhando com decisão e entusiasmo, tendo já realizado várias exposições, todas coroadas de absoluto êxito. Hábil na maneira de pintar “nus”, aos quais empresta uma suavidade e delicadeza excepcionais, Edith Blin tem visto adquiridas todas as suas telas desse gênero, hoje integrando as mais credenciadas galerias da terra carioca – terra que ela, francesa da Normandia, ama e idolatra com Edith_expo46.4um enternecimento que muito a recomenda a nossa simpatia. Após a sua mostra de agora, que a sociedade carioca aguarda com indisfarçável interesse, a festejada pintora francesa irá até sua pátria, onde pretende expor uma série de quadros sobre motivos cariocas. E, de regresso ao Rio, o que dará dentro de um ano no máximo, Edith Blin mostrará aos seus admiradores, entre os quais nos incluímos, todos os trabalhos que realizar na sua gloriosa e sempre admirada França. 

Ao lado, a relação de obras que participaram da exposição de 46. Na parte interna do convite, várias opiniões da crítica sobre Edith Blin. Entre elas, podemos destacar:

Edith_expo46.3

Opiniões da crítica sobre Edith Blin

O que ela pinta é expressivo e eloquente, porque em suas telas ela derrama tudo o que a inquieta e faz sofrer” – Jean Manzon

As qualidades de pureza espiritual, de encantada castidade que envolvem as figuras nuas e surgem das telas de Edith Blin onde ela aborda o grande tema clássico e o resolve com segurança… ” – Edmundo Lys

“… E após um demorado exame, vencidos pelo encanto, pela fortaleza e brilho…” – Lopes da Silva

“… Le public attend ce future spectacle d’art fort et pur…” – Andrée Symboliste

É impossível não se encantar e se emocionar com estes textos e estas imagens, extraídas de um tempo que eu teimo em não deixar perder. E assim como Marcel Proust escreveu em seu fabuloso “À la recherche du temps perdu“, as relíquias nos fazem pensar sobre o tempo que passa, sobre o momento presente, sobre o momento passado, sobre o momento passado revivido no momento presente.

Autor: Catherine Beltrão

Comente