No espaço de menos de um ano, três exposições de Salvador Dali terão sido apresentadas ao público brasileiro.
Salvador Dali (1904-1989), nasceu e morreu na Catalunha, Espanha. Passou pelos movimentos do Dadaísmo, Cubismo e Simbolismo, mas até hoje é considerado o nome mais importante do Surrealismo. Dali produziu mais de 1500 quadros ao longo da sua carreira, e também ilustrações para livros, litografias, desenhos para cenários e trajes de teatro, um grande número de desenhos e dezenas de esculturas, além de projetos para cinema. Tinha uma reconhecida tendência a atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que aborrecia os que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, já que sua forma um tanto quanto excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico.
A primeira das exposições, “Dali, a Divina Comédia“, aconteceu em 2013, passando pelo Rio de Janeiro, Curitiba, Recife e São Paulo, nos espaços da Caixa Cultural destas cidades.
Assim como a obra “Guerra e Paz“, de Cândido Portinari, nasceu a partir de uma solicitação de doação de obra de arte aos países membros para a sede da ONU (vide post neste blog), o governo italiano, em meados do século XX, para comemorar os 700 anos de nascimento de Dante Alighieri, encomendou a diversos pintores obras em homenagem ao grande poeta. Salvador Dali produziu, entre 1950 e 1960, 100 xilogravuras inspiradas na obra A Divina Comédia.
Com curadoria de Rodolfo de Athayde e Ania Rodriguez, a exposição “Dali, a Divina Comédia” foi estruturada nos moldes da obra de Dante. Em três ambientes, as 100 xilogravuras de Dalí percorrem a viagem imaginária do poeta, desde o Inferno (com 34 imagens) em que Dante foi acompanhado por Virgílio até o centro da terra, onde se depara com Lúcifer; depois, guiado pela amada Beatriz, quando regressa à superfície e passa pelo Purgatório (33 imagens), até chegar a ser admitido no Paraíso (33 imagens). As gravuras de Dalí ilustram, um a um, os cantos do poema épico de Dante.
A segunda exposição de Dali no Brasil nestes últimos meses se intitula “Salvador Dali – Esculturas“, com a curadoria de Francisco Lara, inaugurada em abril e cuja visitação se estenderá até 15 de junho de 2014, na galeria Vitrine da Caixa Cultural de Brasília/DF. A mostra reúne 26 esculturas, produzidas entre 1970 e 1981, confeccionadas em bronze com técnica de fundição por cera.
Um quadro do pintor Francisco de Goya serviu de impulso para Salvador Dali criar toda uma série de esculturas no início dos anos 1970. Durante um passeio com a mulher, Gala, pelas ruas de Madri, o artista se deparou com um retrato de São Paulo pintado por Goya no século 18 e pendurado no interior de uma galeria. O dono da loja, Isidro Clot, apresentou Dali à obra e deu início a uma relação que resultaria em 44 moldes de escultura em cera, negociados em troca da pintura de Goya e de uma série de pagamentos sucessivos realizados ao longo dos anos.
Dali vendeu a Clot os direitos de reprodução das obras em diversos tamanhos e com diferentes utilidades. O conjunto foi batizado de Coleção Clot. As obras que vieram ao Brasil pesam, em média, 4 toneladas, e, por causa das dimensões, as peças viajaram de navio da Espanha até o Brasil. O curador fez uma montagem pedagógica para explicar a questão da autoria na arte. Além das 24 peças consideradas originais, foram incluídas duas outras que não pertencem à Coleção Clot, embora sejam tidas como obras de Salvador Dali. As obras feitas para Clot são consideradas originais porque foram modeladas pelo próprio artista e reproduzidas em edições de apenas oito exemplares, detalhe que, no mercado de arte, é responsável pela autenticação da autoria e valorização da obra.
A continuação do texto segue em outro post, “Dali visto daqui (parte II)”.
Fontes: http://www.favodomellone.com.br/dali-a-divina-comedia-mostra-aproxima-literatura-e-artes-visuais/ e http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2014/04/13/interna_diversao_arte,422854/exposicao-com-26-esculturas-de-salvador-dali-chega-em-brasilia.shtml
Autor: Catherine Beltrão