Eduardo Kobra, artista muralista brasileiro

Eduardo Kobra, nascido em 1976 em São Paulo, é hoje considerado por muitos como o maior nome da “street art” mundial.

Sua mais recente obra,  o mural “Let me be myself” (“Deixe-me ser eu mesma”), de 240m²,  retrata a menina Anne Frank, em NDSM-werf, na região norte de Amsterdã, na parede do prédio em que será construído o maior museu de arte de rua de todo o mundo.

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O mural “Let me be myself”, em Amsterdã

A menina Anne Frank, morta aos 15 anos em fevereiro de 1945 pela barbárie nazista no campo de extermínio de Bergen-Belsen, serviu de inspiração para Kobra:  “Sempre quis fazer um mural sobre Anne Frank. A sua triste história leva a uma profunda reflexão, já que a intolerância ainda persiste no mundo. Ao mesmo tempo, Anne inspira muitos jovens do mundo inteiro pela sua coragem e sabedoria. Apesar de tudo, ela nunca perdeu sua fé na humanidade e se manteve viva através da literatura para transmitir sua história e legado. Escolhi como título e tema do mural justamente uma de suas frases mais representativas e universais, que é ‘Deixe-me ser eu mesma’, fundamental em um mundo onde a identidade de cada um deveria ser respeitada”.

Pouco antes dos Jogos Olímpicos deste ano, Kobra encantou o mundo ao fazer no Rio de Janeiro o belo e relevante mural  “Etnias –  Todos Somos Um”, monumental trabalho, com 2.646,34m², no Boulevard Olímpico, no Porto Maravilha, Rio de Janeiro. No mural, estão representados os cinco continentes: Ásia –  Karen, da Tailândia; Oceania – tribo Hulis, da Papua Nova Guiné; América – os Tapajós, da região amazônica; Europa – tribo Chukchis, da Sibéria e África – os Mulsi, da Etiópia.  A obra foi reconhecida pelo Guinness World Records como o maior mural grafitado do mundo.

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“Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro. O maior mural do mundo.

Sempre disse que esse seria o maior painel grafitado no mundo e que era o único recorde já garantido antes do início dos Jogos. Mas é claro que esse número –  que estar no Guinness – só é importante para dar ainda mais visibilidade à obra. O importante é a mensagem! Infelizmente há no mundo uma intolerância cada vez maior, onde pessoas de diversos continentes, especialmente da Europa, rejeitam o imigrante ou o ‘diferente’. Espero que esse mural, dentro do espírito olímpico dos Jogos, tenha ajudado e continue a ajudar a lembrar que todos temos origens ‘semelhantes’, que todos somos diferentes mas iguais; que a diversidade é bela, mas que no fundo Todos Somos Um: a espécie humana”, diz o artista.

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“O beijo está no ar”, em Manhattan

Em 2012, Eduardo Kobra fez o belíssimo mural “O beijo está no ar” em Manhattan, na região de Chelsea. Fotografado por Alfred Eisenstaedt, em 1945, o icônico beijo pós segunda guerra mundial inspirou o mural .

Foi um trabalho de grande repercussão e interação com o público. Como a parte superior do mural está totalmente voltada para o público que caminha pela High Line, muita gente parava para acompanhar o nosso trabalho.  Nunca vi coisa parecida”, relembra Kobra.

O tema escolhido para a obra remeteu a Times Square da década de 40. ”Em uma das nossas longas caminhadas que fizemos antes de decidirmos o que e onde pintar, chegamos a Times Square e fiquei profundamente emocionado, com todo aquele movimento, as pessoas do mundo inteiro,  os painéis enormes e coloridos e a vida pulsando. Buscamos algumas referências e chegamos ao famoso beijo da Times Square”. (beijo de um marinheiro em uma enfermeira, que ilustrou na capa da revista Life o fim da II da Segunda Guerra Mundial, retratado pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt, em 14 de agosto de 1945, dia em que o Japão se rendeu aos EUA).

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“A bailarina”, em Moscou.

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“Ana”, em Moscou.

Em 2013, Kobra viajou para Moscou a convite da Prefeitura da cidade, para pintar um novo mural: “A bailarina“. O painel, que mede 16mX10m, é uma referência a um dos principais nomes da história do balé russo e mundial: Maya Plisetskaya . Mas, o artista avisou, minutos antes de sair da Rússia, que havia deixado em Moscou mais um mural, feito sem convite ou permissão oficial: a obra “Ana”, onde pedia a liberdade para a ativista Ana Paula Maciel, do Greenpeace.

Ana” foi pintada no bairro Mendeleevskaya, próximo à estação de metrô do mesmo nome, em um local tradicional da Street Art de Moscou. Foi toda feita com spray. A produção da obra demorou cerca de cinco horas. “Primeiro pintei o urso e só ao final escrevi a mensagem, para não despertar tanta atenção de quem passava pelo local”, diz Eduardo Kobra. “Foi maravilhosa a forma como fui recebido em Moscou e São Petersburgo. O tempo todo fiquei impressionado com a força da cultura russa, em seus variados aspectos, mas não poderia deixar de registrar o meu protesto contra a prisão da ativista do Greenpeace. Afinal, não podemos tolerar a falta de liberdade para a expressão”, afirmou na época Eduardo Kobra.

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“Genial é andar de byke”, em São Paulo.

A maioria das obras de Eduardo Kobra se encontram em São Paulo. O difícil foi escolher uma delas para inserir neste post. A aliança da ciência com o humor foi o critério utilizado. Em 2015, Kobra criou o mural “Genial é andar de byke“. A obra fica na  Rua Oscar Freire e  retrata o físico alemão Albert Einstein em cima de uma bicicleta, fazendo uma versão da famosa teoria da relatividade, E=mc², que virou <3 = Eu+Vc².

Eduardo Kobra, um muralista brasileiro. Um grande artista. Um grande brasileiro.

Autor: Catherine Beltrão

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