Era uma vez uma gruta.
Em 1916, foi inaugurada a Av. Niemeyer. Em 1920, o Rio de Janeiro recebeu a visita do Rei Alberto, da Bélgica. Por este motivo, a Niemeyer foi praticamente reinaugurada. Foi alargada, asfaltada e teve suas curvas ampliadas pelo então prefeito, Engenheiro Paulo de Frontin. Durante essa reforma, numa das curvas da avenida, foi construído um viaduto que teve em seu nome uma homenagem ao Rei Alberto.
Em 1922, o prefeito Alaôr Prata abriu a “Gruta da Imprensa”, que nada mais era do que um platô na Avenida Niemeyer onde ficavam os jornalistas da época que faziam a cobertura das corridas automobilísticas de rua. O trajeto dessas corridas ficou conhecido como “Circuito da Gávea” ou “Trampolim do Diabo”. As largadas se davam próximo ao antigo Hotel Leblon, que ficava no início da Niemeyer, passavam pela “Gruta da Imprensa”, seguiam pela “Rocinha” (que na época sequer sonhava em ter o atual tamanho), e voltava pela Rua Marquês de São Vicente, na Gávea. A ideia do “Circuito da Gávea” foi de Francisco Serrador (o dono do famoso Hotel Serrador no Centro da cidade, próximo ao Passeio Público), em co-parceria com o “Touring Club do Brasil”, e só acabou em 1954.
Até onde foram minhas pesquisas na Internet, só encontrei um artista que tivesse pintado a Gruta da Imprensa: Anita Malfatti (1889-1964).
Anitta Malfatti é um dos grandes nomes da Semana de Arte Moderna de 1922. São dela as palavras, após visita a uma exposição na Alemanha: ” Fiquei infeliz porque a emoção não era de deslumbramento, mas de perturbação e de infinito cansaço diante do desconhecido. Assim passei semanas voltando diariamente ao Museu de Dresde. Em Berlim continuei a busca e comecei a desenhar. … Tudo é resultado da luz que os (objetos) acusa, participando de todas as cores. Comecei a ver tudo acusado por todas as cores. Nada nesse mundo é incolor ou sem luz.”
Hoje a Gruta da Imprensa está de luto. O recente episódio do desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia, junto à gruta, deixou mortos e desaparecidos. Tentarão colocar a culpa nas ondas. Mas o mar nunca é o culpado. O mar tem sua força que, muitas vezes, é subestimada. O mar será sempre maior que o homem. Cabe ao homem curvar-se e respeitá-lo.
Autor: Catherine Beltrão