Inteligência artificial na Arte

Kandinsky é a bola da vez no CCBB-RJ. “Alan Turing: o Enigma” – leia-se “O jogo da imitação” – ganhou o Oscar 2015 de melhor roteiro adaptado. Qual a relação destes dois temas? A inteligência artificial.

Assim como não existe uma só definição para o que vem a ser Inteligência, há muitas definições para a Inteligência Artificial. Escolho esta: “É a ciência que estuda como fazer os computadores realizarem coisas que, atualmente, os humanos fazem melhor.” O desenvolvimento da área começou logo após a Segunda Guerra Mundial, com o artigo “Computing Machinery and Intelligence” do matemático Alan Turing.

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Alan Turing e sua máquina

Alan Turing (1912-1954) foi um matemático, lógico e cientista da computação britânico. Considerado o pai da ciência da computação, Turing criou a famosa “Máquina de Turing“: para comprovar a inteligência artificial ou não de um computador, ele desenvolveu um teste que consistia em um operador não poder diferenciar se as respostas a perguntas elaboradas pelo operador eram vindas ou não de um computador. Caso afirmativo, o computador poderia ser considerado como dotado de inteligência artificial. Sua máquina podia ser programada de tal modo que pudesse imitar qualquer sistema formal.

Da Máquina de Turing até os dispositivos computacionais atuais, a inteligência artificial trilhou um caminho evolutivo bem grande, subdividindo-se em algumas partes como a robótica, os sistemas especialistas, as redes neurais, os algoritmos genéticos, entre outras tantas, e abrangendo aplicações em várias áreas: engenharia, indústria, medicina, biologia, jogos, telecomunicações… esta lista jamais será exaustiva!

Mas e a aplicação da Inteligência Artificial na Arte? Como anda ela?

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Detalhe de obra de Kandinsky, reinterpretada pelo algoritmo KANTS

Um estudo muito interessante está sendo desenvolvido por Carlos M. Fernandes, em seu doutorado em algoritmos evolutivos, consistindo na reinterpretação de obras de arte abstrata. Essa reinterpretação é feita por um enxame de insetos artificiais que, com a informação cromática da obra original, molda um habitat bidimensional no qual se move e através do qual se comunica entre si. O resultado final é a transcrição desse habitat, após a ação do enxame durante um determinado número de repetições.

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Detalhe de obra de Miró, interpretada pelo algoritmo KANTS

Para fazer esse enxame de insetos artificiais, Carlos M. Fernandes desenvolveu, em conjunto com Juan Julián Merelo e Antonio Mora, da Universidade de Granada, um algoritmo original para agrupar grandes quantidades de dados e deteção de padrões. O algoritmo, chamado KANTS, é um tipo dealgoritmo de formigas. Estes algoritmos são métodos computacionais baseados no comportamento de colônias de formigas.

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Detalhe de obra de Mondrian, reinterpretada pelo algoritmo KANTS

Pois é. Comparadas com as inúmeras outras aplicações, são poucas as incursões da Inteligência Artificial na Arte. Pelo visto, é bem mais complexo simular a inteligência de um artista do que a de um engenheiro, um médico, um processo empresarial. Isto está diretamente relacionado com a codificação da criatividade, abundante nos profissionais da Arte.

Autor: Catherine Beltrão

Comments(5)

  1. Responder
    Annelise Gripp says:

    Catherine.

    É fascinante ver que a tecnologia avança ao ponto de tentar copiar os traços humanos.
    Mas se formos pensar que cada traço humano, existe um sentimento, um pensamento na ponta de um pincel, teremos que fazer a maquina amar antes de ensina-la a pintar ou multiplicar seus traços.
    Touring teve uma mente brilhante numa época que poucos valorizavam a velocidade do pensar.
    Muito bom artigo Catherine! Parabens!

    Bjs
    Annelise Gripp

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      É isso mesmo. Sou fascinada por essa área da IA, a do Reconhecimento de Padrões. Minha tese de doutorado (que não terminei porque na época o hardware não era suficiente para suportar a pesquisa) versava sobre encontrar uma “assinatura” nas criações musicais de J.S. Bach e Philippe Rameau, analisando suas partituras para reconhecer padrões de composição distintos. Bacana, não?
      Mais uma vez, Annelise, adorei você ler e comentar um post meu!

  2. Responder
    Fernanda Guimarães says:

    A arte desperta sensações no ser humano que ajudam desenvolver seu pensamento crítico. A tecnologia surgiu para potencializar habilidades humanas ou vontades que o homem tem em imitar ou ultrapassar limites da natureza e espaço.
    A força e determinação de Touring foi excepcional. Movido por uma paixão, fez sua arte. Através da matemática expressou o quanto podemos ir além.

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      O que mais gosto, ao escrever estes textos no blog, é a possibilidade de compartilhá-los e tocar a sensibilidade das pessoas. E que sensibilidade você tem, Fernanda! Tudo indica que você está incluída neste pequeníssimo grupo que percebe que Arte e Ciência se complementam e muito ainda precisa ser explorado nesta situação de complementação… obrigada pelo registro!

  3. Responder
    Prisma, rotoscopia e A.I. – Luciano Baêta says:

    […] a evolução tecnológica cada vez veremos mais discussões sobre inteligência artificial no meio das artes, e apesar de às vezes assustar (texto original, em inglês, aqui), não dá para temer a […]

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