Julieta

As duas estavam na varanda. Avó e neta. Edith e Katia. As duas com um livro na mão. O som de uma música vinha da sala. Na vitrola, o disco de vinil tocava “Romeu e Julieta“, de Sergei Prokofiev.

Que música bonita, vó! Dá até vontade de sair dançando…

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Galina Ulanova, no balé “Romeu e Julieta”

É mesmo, Katia! O Prokofiev deve estar feliz agora pois ele fez essa música pra dançar. Estamos ouvindo a música do balé ‘Romeu e Julieta’…, falou Edith. E continuou:

Você conhece a história, não?

É aquela em que os dois morrem no final, vó? É muito triste… , respondeu a neta.

Depende. Se você pensa só nisto, é triste. Mas vamos pensar mais?

Vamos!, concordou Katia, toda feliz com o que ía ficar sabendo.

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Galina Ulanova, no balé “Romeu e Julieta”

E Edith contou a história escrita há mais de quatrocentos anos por William Shakespeare, um dos maiores escritores de todos os tempos,  que se chama “Romeu e Julieta, do Ódio ao Amor“.

Contou das famílias tradicionais que se odiavam na Itália do séc. XVI, os Montecchios e os Capuletos. Contou da paixão proibida de Julieta e Romeu, filhos das famílias rivais. Contou da poção tomada por Julieta para fingir que tinha morrido. Contou do desespero de Romeu que, acreditando na morte de sua amada, ingere um veneno e se mata. E contou que Julieta, ao acordar e deparar com o corpo inerte de Romeu a seu lado, pega um punhal e se mata também.

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Galina Ulanova, no balé “Romeu e Julieta”

Pois é, vó, não falei? O Romeu e a Julieta morrem no final, viu?

Sim, é verdade, respondeu Edith.

– Mas sabe o que aconteceu depois?, continuou ela.

Este não é o final da história? O que aconteceu depois?, perguntou a neta.

– Pois bem: as famílias de Romeu e de Julieta ficaram tão abaladas com a tragédia que nunca mais brigaram! Este é o fim da história… 

Puxa, é mesmo, o final da história não é tão triste., concordou Katia. E continou:

Vó, se eu dançar um dia este balé, eu queria ser a Julieta!

Tá certo. Enquanto isso, vou pintar uma bailarina Julieta pra você!

E Edith pintou a “Bailarina vestida de azul” para Katia.

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“Bailarina vestida de azul”, de Edith Blin. 1957, pastel sobre cartolina, 50 X 38cm

 

Naquele dia, Katia aprendeu que a tristeza pode gerar felicidade. Basta esperar mais um pouco. Ou olhar para o horizonte.

 Autor: Catherine Beltrão

Este é o 6º post da série “Bailarinas“.  1º post: “A Bailarina Azul”; 2º post: “A Fada Bailarina Lilás“; 3º post: “A Bailarina de Tutu Amarelo”; 4º post: “Odete, Aurora ou Clara?” 5º post: “Isadora”.

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