E lá se vão quase treze anos que Luiza e seu universo naïf me fizeram evoluir no entendimento da arte. Até então, eu pertencia àquele grupo – ainda bem que este grupo encolhe a cada dia – que considera o naïf uma arte produzida por artistas menores, artistas que desconsideram fatores como profundidade, luminosidade ou mesmo perspectiva na criação de suas obras. A minha ignorância não percebia que, sem estas pilastras, a obra produzida deve ser sustentada muito mais fortemente por outras como a firmeza no traço, a cor e, sobretudo, a sua significância. Aos poucos, penetrando neste universo, descobri a beleza e a grandiosidade desta arte maior, que tem a capacidade de atingir facilmente corações descobertos e mentes libertas.
Luiza Caetano nasceu e habita Portugal, mas frequentemente frequenta terras brasileiras, sobretudo o Rio e S.Paulo. Os primeiros contatos que tive com ela foram em 2001, pela Internet, através do site www.artenarede.com.br, quando tive o privilégio de tê-la como uma das primeiras artistas a se cadastrar e a catalogar suas obras no site. Também foi Luiza uma das primeiras artistas cadastradas a doar uma obra – “Diego Rivera e Frida Kahlo” – para o futuro Museu ArtenaRede.
Com o passar dos anos, pude conhecer Luiza pessoalmente, participando de aberturas de algumas de suas exposições no Rio de Janeiro e apresentando-lhe a cidade de Nova Friburgo/RJ, onde moro. Nosso último encontro foi em Lisboa, em 2009. Magnífica e pujante a força pessoal e criativa desta grande artista!
Em Estoril, escreveu Edgardo Xavier, em 2002: “Interagindo com factos, objectos, pessoas e obras da sua predilecção, Luiza Caetano apropria-se do real e do fantástico para, com assinalável autenticidade, construir roteiros diversificados onde pontificam evocações e sentimentos que nos remetem para as fontes da sua inspiração. Pintar passa a ser, também, um acto de recuperação de heróis e mitos, de lendas e realidades douradas,de trivialidades que fazem história ou, se quisermos, apenas um reflexo desta mulher que usa a fantasia para que melhor a aceitem na plenitude da sua verdade. ”
Através de sua arte, Luiza Caetano gosta de interagir com diversos personagens como Amália Rodrigues, Carmem Miranda, Frida Kahlo, Botero, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa. São obras repletas de significado e de sonoridade, verdadeiras conversas entre almas gêmeas, as quais ficamos extasiados ao admirar e, por que não, delas participar.
E, por falar em almas que se comunicam, é de Luiza Caetano este poema, intitulado “Almas Gêmeas”, pois a artista também expressa sentimentos em palavras, com a mesma pureza e paixão que dedica às telas:
Tal qual dois espíritos
se encontram e se perdem
na volatidade dos dias,
Dois espíritos
necessitados
do oxigénio do sonho
para reinventarem a vida,
Dois rios
que se encontram
na confluência dos mares
explodindo as marés,
Dois rios,
duas estrelas
ou dois vulcões
que se cruzam
se abraçam
ou se anulam
lutando contra
o inexorável limite
dos limites.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(3)
Luiza Caetano says:
3 de março de 2014 at 19:24Fascinada pelo reencontro com Catherine Beltrão, uma das primeiras amigas virtuais – que passou a real – e a quem devo muitas e boas divulgações no seu belo site ARTENAREDE.
Hoje, mais uma vez senti seu pulsar neste blogue que é como um milagroso germinar no qual Catherine deixa suas pégadas cavadas na pedra dura da internet – a mais excelente ferramenta (como um dia eu já afirmei). Uma ferramenta realmente maravilhosa que nos encontra face to face e por vez nos esparsa, tais são atualmente as milhentas (e por vezes vulgaróides) utilizações.
Que esta experiência cresça e floresça como a força de sua autora.
Mais uma vez me sentindo verdadeiramente honrada e até comovida pela autenticidade de sua autora e pelas boas lembranças que dela sempre guardarei.
Força, querida Catherine!
Catherine Beltrão says:
3 de março de 2014 at 19:42Meu Deus, que coisa mais linda que acabei de ler! Luiza, você é uma força da natureza, junto com a água, o fogo, o vento… bendita seja e abençoados são os amigos e amigas que tem a sorte de conviver com você!
Obrigada pelas palavras e pelo sentimento.
Vamos em frente!
Eduardo says:
4 de março de 2014 at 01:18Que privilégio poder acompanhar tão generosas linhas! Tanto as do primoroso (e, acima de tudo, carregado de afeto) texto de Catherine, quanto os da seguinte troca de mensagens entre almas que se aproximaram pela arte. Lindo! Alias, belo! Saibam, ambas, que têm a minha profunda e sincera admiração. Afetuosos abracos