Mãe: quando a terra vira pó

Hoje faço uma pausa.

Minha mãe faleceu faz poucos dias. Seu corpo permanece gelado, esperando ser incinerado. As cinzas irão se espalhar nos ares da região do Oise, no centro-norte da França. Espero poder participar deste ritual.

Leonardo_SantaAna

Detalhe de “A Virgem, o Menino, Sant’Ana e São João Batista” de Leonardo da Vinci. Carvão e giz sobre papel, 1499-1500.

 

Não fui criada por quem me gerou. Não foi minha mãe que me aleitou, que perdeu noites, que me fez levantar das quedas previstas ou não. Não foi minha mãe que me mostrou os caminhos da Arte ou da Ciência. Não foi ela que me ajudou na arte impressionantemente difícil de ser mãe.

Mas minha mãe foi a terra que me germinou. Em seu ventre, virei gente. E aqui estou, reverenciando sua vida e me pausando em sua morte. E, com sua morte, esta terra vira pó.

 Autor: Catherine Beltrão

Comments(4)

  1. Responder
    Taissa says:

    Mãe,
    Você não tem idéia com a admiro e tenho orgulho de ter tido você em todos os momentos da minha vida. Sou eternamente grata a minha vó por ter te plantado e ter germinado alguém com uma intensidade como a sua.
    Vó, sentiremos sua falta e agradeço por tudo! Um beijo enorme aqui debaixo!
    Mãe, continuamos juntas, lado a lado, em todos os momentos, sendo mãe e filha, vó e mãe, te amo!

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Hoje, dia de celebração de missa em intenção à alma de minha mãe, não estarei presente por motivos totalmente absurdos e alheios a minha vontade. Não estarei, de corpo presente, junto a vocês, filhos e entes amados. Mas, você sabe – e disso tenho certeza – filha linda, que sempre estarei a seu lado, enquanto viver e mesmo depois, zelando pela descendência e pelos valores que terei deixado como legado. Obrigada, linda, pelos sentimentos externados neste comentário! Como já falei antes, pranteei com estas suas palavras…

  2. Responder
    Lucíola Viegas says:

    Catherine, com este texto, ou melhor esta produção de arte, você me fez lembrar da minha mãe, que como você, não foi criada pela sua genitora, mas tornou-se um exemplo de ser humano, de amor à vida e a Deus, que nos inspira sempre a olhar para frente e prosseguir para o nosso alvo. Minha mãe e você, Catherine, são pessoas que nos ensinam a fazer e querer ser sempre mais do que é possível e, não nos contentarmos apenas com o necessário. Te admiro muito!!! Abraços, Lucíola Viegas.

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Pois é, Lucíola, tento aplicar este lema “Fazer o máximo possível e não o mínimo necessário” na minha trajetória de vida, tanto profissional quanto pessoal. E tento também passar isso adiante. Mas não é fácil, pois a impressão que tenho é que nado contra a correnteza, pois a tendência atual é exatamente oposta, aquela do “menor esforço”, do “mais esperto”. Obrigada pela comparação de minha pessoa com sua mãe… foi muito significativo pra mim!

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