Murais: de pinturas rupestres a grafites

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Pintura rupestre na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, na Serra da Capivara. Piaui, Brasil. Datação provável: 12000 anos.

Desde sempre, desenhos foram pintados em paredes: poderiam ser dentro de cavernas, dentro de igrejas, dentro e fora de casas, de palácios, de monumentos ou mesmo, de simples prédios.  A pintura mural tem raízes no instinto primitivo dos povos de decorar seu ambiente e de usar as superfícies das paredes para expressar idéias, emoções e crenças.

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Mural na Vila dos Mistérios, em Pompeia, pintado por volta de 60 a 70 a,C.

A cidade de Pompeia, na Itália, foi totalmente devastada pelas lavas do vulcão Vesúvio, em 24 de agosto de 79. Construída no sec. II a.C, a Vila dos Mistérios é uma das casas mais bem preservadas de Pompeia, com afrescos representando um rito de iniciação misterioso dionisíaco das mulheres no casamento.

A técnica de uso mais generalizado para o muralismo é a do afresco, que consiste na aplicação de pigmentos de cores diferentes, diluídos em água, sobre argamassa ainda úmida.

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“A última ceia”, afresco de Leonardo da Vinci. 1495–1498, 460 cm × 880 cm. Localização: Santa Maria delle Grazie, Milão

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“O Juízo Final” (detalhe), afresco de Michelangelo. 1537-1541, 1370 x 1220 cm. Localização: Capela Sistina, Vaticano.

No Renascimento, foram criadas algumas obras-primas do muralismo, como os afrescos da capela Sistina, por Michelangelo, e a “Última ceia“, de Leonardo da Vinci. Este afresco foi pintado com técnica mista, com predominância da têmpera e óleo sobre duas camadas de preparação de gesso aplicadas sobre reboco (estuque).

“O Juízo Final” é um afresco do pintor renascentista italiano Michelangelo Buonarroti, pintado na parede do altar da Capela Sistina. É, na visão do artista, uma representação do Juízo Final inspirada na narrativa bíblica.

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“Tiradentes” (detalhe), de Cândido Portinari. 1949. Têmpera s∕tela, 309 x 1767 cm. Localização: Memorial da América Latina – São Paulo.

Após alguns séculos de decadência, a pintura mural ressurgiu no século XX, com todo vigor, com trabalhos de grupos cubistas e fauvistas, em Paris, incluindo artistas como Picasso, Matisse, Léger, Miró, Portinari e Chagall,  e também a partir do movimento revolucionário mexicano, com Diego Rivera.

Em “Tiradentes“, Portinari representa os episódios e os principais protagonistas da Inconfidência Mineira. A escolha do tema é do próprio Portinari que se dedica aos estudos e documentos sobre os fatos que sucederam ao martírio de Joaquim José da Silva Xavier. Adota como fonte importante de pesquisa o “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles e tem como desafio implícito a tela “Tiradentes Esquartejado“, 1893, de Pedro Américo.

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“Pan American Unity Mural”, de Diego Rivera. 1940. Localização: City College of San Francisco

O mexicano Diego Rivera acreditava que somente o mural poderia redimir artisticamente um povo que esquecera a grandeza de sua civilização pré-colombiana durante séculos de opressão estrangeira. Assim como os outros muralistas, considerava burguesa a pintura de cavalete, pois na maior parte dos casos as telas ficavam confinadas em coleções particulares. Dentro deste conceito, realizou gigantescos murais que contavam a historia política e social do México, mostrando a vida e o trabalho do povo mexicano, seus heróis, a terra, as lutas contra as injustiças, as inspirações e aspirações.

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Teto do Opéra Garnier, em Paris, de Marc Chagall – 1964

O famoso Ópera de Paris apresentou em 23 de setembro de 1964 um deslumbrante novo teto pintado como oferecimento pelo artista bielo-russo Marc Chagall, que passou grande parte da vida na França. O teto era característico das obras primas de Chagall – infantil em sua aparente simplicidade, embora luminoso pelas cores e evocativo do mundo de sonhos e do subconsciente. Trabalhando em uma superfície de 560 metros quadrados, Chagall dividiu o teto em zonas coloridas que preencheu com paisagens e figuras representativas dos luminares da ópera e do balé.

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“The Fischerman”, um dos cinco murais de concreto de Picasso. Localização: Oslo, Noruega.

O sempre inovador Pablo Picasso se aventurou em murais de concreto. Os prédios do Regjeringskvartale (Quarteirão do Governo), em Oslo, na Noruega, apresentam cinco murais de Picasso esculpidos no concreto. Trata-se da primeira incursão do artista espanhol neste material. Os murais variam em tamanho. Vão do “The Fisherman”, uma imagem de 12 metros de largura que ocupa uma parede inteira, a “The Beach”, gravada na parede interior de outro prédio.

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Maior grafite do Rio de Janeiro, by Toz. 30 X 70m. Localização: Praça Mauá, Rio de Janeiro.

Desde 2013, um imenso painel de cores vibrantes e formas harmoniosas chama a atenção em meio à paisagem cinza das construções antigas e às obras de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, Brasil. Com 30 metros de altura e 70 de largura, o maior grafite do Rio, na lateral de um prédio na Rua Coelho e Castro, na Saúde, próximo à Praça Mauá, do artista plástico Tomaz Viana, o Toz. Na pintura, em sua maior parte dividida em triângulos, aparecem, entre outras,  imagens de meninas, animais e balões.

De pinturas rupestres a grafites, o homem sempre procurou, através dos tempos e ao mesmo tempo, popularizar e eternizar sua arte pictórica em espaços públicos e perenes, vinculados à arquitetura de seus ambientes.

Autor: Catherine Beltrão

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