Museu Nacional e Notre-Dame de Paris: partes de uma alma triste

Na Semana dos Museus, resolvi ficar triste.

Não foi uma decisão difícil. Foi só lembrar de duas tragédias. Imensas. Ocorridas em algumas horas de dois dias específicos. Pois as outras, não tão devastadoras, acontecem todos os dias. Todas as horas.

Localizado na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, o  Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do país e uma das mais importantes do mundo. Fundado pelo rei Dom João VI em 1818, seu primeiro acervo surgiu a partir de doações da Família Imperial e de colecionares particulares.

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Museu Nacional, antes do incêndio de 02.09.2018

Mais de 20 milhões de itens catalogados, contando com uma das mais completas coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias andinas e egípcias e artefatos importantes da arqueologia brasileira.

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Museu Nacional, durante o incêndio de 02.09.2018

A réplica do Maxakalisaurs topai, o maior dinossauro já montado no país, um animal herbívoro com cerca de 13 metros de comprimento e 9 toneladas;

Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 11 mil anos, a “brasileira” mais antiga do nosso território. Luzia, nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 11 mil anos. Sua descoberta é um marco da ciência e ajuda a remontar a história da humanidade. Luzia também representava a “brasileira” mais antiga do nosso território;

a maior coleção egípcia da América Latina;

700 ítens de uma coleção de etnologia africana e afro-brasileira, uma das maiores do mundo;

o Herbário, com um acervo botânico de 550 mil espécimes de todos os biomas brasileiros.

2 de setembro de 2018. 19h30. Domingo. Em poucas horas, 90% deste acervo foi transformado em cinzas.

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Museu Nacional, depois do incêndio de 02.09.2018

Marco da civilização ocidental, a Catedral de Notre Dame de Paris tem 850 anos de história: palco da coroação de Napoleão Bonaparte e da beatificação de Joana d’Arc, foi saqueada durante a Revolução Francesa e  na Segunda Guerra Mundial, seus sinos anunciaram a libertação de Paris do jugo nazista, em abril de 1944.

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Catedral de Notre-Dame de Paris, antes do incêndio de 15.04.2019

De arquitetura gótica, a catedral começou a ser construída em 1163 e finalizada em 1345. É uma das mais antigas catedrais góticas do mundo, visitada por cerca de 13 milhões de pessoas por ano.

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Catedral de Notre-Dame de Paris, durante o incêndio de 15.04.2019

São muitos os atrativos da catedral: o telhado, conhecido como la fôret (a floresta), formado por  toneladas de troncos de carvalho usados para construí-lo (1.300 carvalhos ao todo), onde cada viga pertence a uma árvore diferente;

a escada de uma das torres, com seus 420 degraus, que leva à Galeria das Gárgulas (ou Quimeras), à “flecha” e aos campanários, com os nove sinos da Catedral;

os vitrais, com três belíssimas rosáceas;

os tesouros, com obras de arte e relíquias religiosas como um pedaço da cruz da crucificação de Jesus.

15 de abril de 2019. 18h50. Segunda-feira. Em poucas horas, o telhado e a “flecha” foram consumidos pelo fogo.

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Catedral de Notre-Dame de Paris, depois do incêndio de 15.04.2019

É de Victor Hugo, o célebre escritor francês, autor de “O Corcunda de Notre-Dame“, a frase: “Na face dessa velha rainha das nossas catedrais, ao lado de uma ruga, encontra-se sempre uma cicatriz”.

Entre dezenas, centenas de tragédias, talvez essas tenham sido as que mais atingiram minha alma. E a alma de parte da humanidade.

Autor: Catherine Beltrão

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