O Galo de Barcelos e os galos de Aldemir

Portugal está em festa e os galos estão em alta, a começar pelo Galo de Barcelos. E, quando se pensa em galos, o primeiro artista que nos vem à mente é, sem sombra de dúvida, Aldemir Martins, o pintor dos galos e dos gatos.

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Galo de Barcelos

Um dos símbolos mais representativos de Portugal é sem dúvida o Galo de Barcelos, considerado por muitos como uma espécie de “mascote” do país. A lenda que lhe está associada é uma das mais importantes lendas medievais do erário popular português.

Há muitos séculos atrás os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime e, mais ainda com o fato de não se ter descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia apareceu por aquele burgo um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou na sua palavra, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa. Foi por isso condenado à forca. Antes de ser enforcado, como última vontade, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.” Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo do condenado. Porém, quando o peregrino estava a ser enforcado, o que parecia impossível tornou-se realidade… o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Nesse instante ninguém mais duvidou das afirmações de inocência do condenado. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito que impediu o seu estrangulamento. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.”

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Aldemir Martins

Aldemir Martins (1922-2006) foi um artista plástico cearense, ilustrador, pintor e escultor autodidata, de grande renome e fama no país e exterior. O artista participou de diversas exposições, no país e no exterior, revelando produção artística intensa e fecunda.

Sua técnica passeia por várias formas de expressão, compreendendo a pintura, gravura, desenho, cerâmica e escultura em diferentes suportes. O artista trabalhou com os mais diferentes tipos de superfície, de pequenas madeiras para caixas de charuto, papéis de carta, cartões, telas de linho, de juta e tecidos variados – algumas vezes sem preparação da base de tela – até formas de pizza, sem contudo perder o forte registro que faz reconhecer a sua obra ao primeiro contato do olhar.

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Galos_AldemirMatins5Galos_AldemirMatins3Seus traços fortes e tons vibrantes imprimem vitalidade e força tais à sua produção que a fazem inconfundível e, mais do que isso, significativa para um povo que se percebe em suas pinturas e desenhos, sempre de forma a reelaborar suas representações.

Aldemir Martins pode ser definido como um artista brasileiro por excelência. A natureza e a gente do Brasil são seus temas mais presentes, pintados e compreendidos através da intuição e da memória afetiva. Nos desenhos de cangaceiros, nos seus peixes, galos, cavalos, nas paisagens, frutas e até na sua série de gatos, transparece uma brasilidade sem culpa que extrapola o eixo temático e alcança as cores, as luzes, os traços e telas de uma cultura.

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Galos_AldemirMatins7SONY DSCA arte de Aldemir Martins é extremamente nacional. A grande circulação de sua obra em produtos industrializados rendeu ao artista a acusação de ser ‘comercial’ – mas, assim, ele foi um dos primeiros a contribuir para a democratização da arte.  Aldemir criou estamparia para tecido, desenhos para azulejos e papel de parede, outdoors, ilustrou livros, pratos, copos, e ainda embalagens de sorvete, que venderam mais de oito milhões de unidades.

Um dia, uma repórter perguntou a Aldemir Martins, numa de suas últimas entrevistas, o que ele quis dizer com sua obra: “Que o mundo é bonito“.

Autor: Catherine Beltrão

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