Como pode isso, vovó? Não entendi… Jardim de Dentro? Jardim de Fora?
Vou explicar. Primeiro você tem que acreditar que já fui criança um dia. Igualzinha a você. Sei que é difícil, mas faça um esforcinho…
Bem, tudo começou com o Jardim de Dentro. Eu já lhe contei que sua tataravó Edith era pintora, certo? Então… ela pintava retratos, pintava paisagens, pintava palhaços, pintava bailarinas… e pintava flores!
Mas suas flores eram diferentes. Quase nunca ficavam presas dentro de vasos. As flores de Edith gostavam de ser livres, de dançar e de cantar.
E eu adorava dançar e cantar com elas. Me levavam a lugares incríveis. Quase sempre, estes lugares eram muito coloridos, mas as vezes não. Coloridos ou sem cor, tudo era tão bonito que eu até sonhava com estes lugares.
Uma noite, sonhei que os galhos das flores nos levavam para um lugar mágico, todo iluminado e cheiroso: era uma floresta encantada e cantante!
Outra vez, sonhei que um vento forte nos levava para bem longe. A gente rodopiou, rodopiou, até o vento parar. Nessa viagem, as flores tinham perdido muitas pétalas… mas não teve problema, pois eu remendei uma a uma.
Pelo que me diziam (porque eu também conversava com as flores de Edith), só eu conhecia estes lugares. E eles passaram a ser o meu Jardim de Dentro!
Mas e o Jardim de Fora, vovó? Como era?
O Jardim de fora não “era”. Ele “é”. É o nosso Jardim dos Poetas!
É o jardim onde você brinca com seus irmãos e seus primos quando vem me visitar… é o jardim das bromélias, das orquídeas, das cerejeiras, dos beija-flores e dos bem-te-vis. É o jardim dos ipês, dos bambus, das camélias, dos jacus e dos sabiás. E é também o jardim das azaleias, dos antúrios, das palmeiras, das corujas e dos tico-ticos.
Eu tive o meu Jardim de Dentro quando criança, onde plantei as sementes do meu Jardim de Fora de hoje, o nosso Jardim dos Poetas. Quem sabe ele, o Jardim dos Poetas, não seja o seu Jardim de Dentro e que dê muitas sementes para você plantar em seu Jardim de Fora de amanhã…
Autor: Catherine Beltrão