Nascemos, começamos a crescer e nos tornamos crianças. Primeiras frustações. Crescemos mais um pouco e passamos pela adolescência. Primeiras desilusões. O tempo passa e nos tornamos adultos. Com responsabilidades e deveres. Com metas a alcançar e críticas a suportar. Mas, para alguns de nós, permanecem ilhas da infância e da juventude em nossos corações e mentes. E é para lá que nos refugiamos nos momentos de angústia e seriedade demasiada. Os caminhos para estas ilhas? Filmes como “O Pequeno Príncipe” e “Divertida Mente“, duas pérolas que tanto podem virar Sol ou Lua em nossos pensamentos, dependendo se forem solares ou lunares…
Saint-Exupéry fez parte de minha infância e de minha adolescência. Li “Le Petit Prince” a primeira vez aos nove anos de idade. “Terre des Hommes” e “Vol de Nuit” me chegaram aos dezessete, dezoito anos. Com eles, veio a poesia. O pensar e o escrever poético.

Extraído do filme “O Pequeno Príncipe”, de Mark Osborne
O diretor Mark Osborne fez a primeira adaptação animada de “O Pequeno Príncipe“, de Antoine de Saint-Exupéry. O roteiro está centrado em uma menina, que acaba de se mudar para uma cidade com a mãe obsessiva, que a prepara para um mundo adulto, repleto de metas e deveres a cumprir. Este mundo é povoado de tons cinza, figuras recurvadas e solenes, todas olhando para o chão onde pisam. Ao lado mora um vizinho excêntrico, um velho aviador, em uma casa cheia de cores, plantas e bichos. Este aviador se torna amigo da menina que passa a conhecer um mundo extraordinário e quase mágico, no qual tudo é possível. É o mundo do Pequeno Príncipe. A imaginação da menina começa a funcionar e uma emocionante jornada mágica acontece pelo universo do Pequeno Príncipe. É a redescoberta da infância, onde “o que é realmente essencial somente pode ser visto com o coração“, onde “o tempo que perdeste com tua rosa é que fez tua rosa tão importante“, onde “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas“…
Para os entendidos em efeitos visuais, existe também um contraponto no filme. De um lado, os fantásticos efeitos proporcionados em 3D para a narrativa da história da menina com sua mãe obsessiva e seu amigo aviador. Do outro lado, o stop motion 2D utilizado quando a menina olha e imagina as aquarelas originais das páginas do livro “O Pequeno Príncipe“. Nestes momentos, nós, adultos, voltamos a nossa infância, na “busca do tempo perdido“.
E o filme “Divertida Mente“? Por coincidência ou não, a protagonista da história também é uma menina. Ela tem onze anos e também sua vida vai se transformar quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal para viver em outra cidade, com novos colegas na escola nova. Vamos então mergulhar no cérebro da menina e tentar entender seus sentimentos: a Alegria, a Tristeza, o Medo, a Raiva e o Nojo. Estes sentimentos vão interagir o tempo todo, a cada vez que uma decisão precisa ser tomada ou quando uma sensação aparece.

Extraído do filme “Divertida Mente”, de Pete Doctor. A Alegria tentando organizar as memórias relacionadas a sentimentos…
A história foi ideia do diretor Pete Docter (que também dirigiu “Monstros S.A” e “Toy Story“), inspirado em sua própria experiência como pai. Especialistas, psiquiatras e neurologistas foram convocados para a produção do filme, para ajudar na compreensão do funcionamento da mente e da consciência.
À primeira vista, parece que o único bom sentimento é a Alegria. É ela que rege a vida da menina, que a faz encarar as barreiras e os problemas. Aos poucos, percebe-se que a Tristeza, a princípio a vilã da história, é bem mais importante do que se imagina. É ela, pelo seu senso de realidade, que irá salvar a menina e ajuda-la a voltar para o convívio da família, seu porto seguro.
Memórias, medos, sonhos, imaginação. O que povoa nossa mente? Memórias que se apagam à medida que o tempo passa. Medos de sombras que percebemos na escuridão da noite. Sonhos de viagens pelo arco-íris … a imaginação de uma criança é infinita.
Os efeitos visuais proporcionados pelos Estúdios Disney-Pixar em “Divertida Mente” são fantásticos. É cada vez mais impressionante ver o que a Tecnologia faz pela Arte. Vale a pena assistir a este vídeo do making-off, mostrando parte da computação gráfica utilizada no filme.
Estes dois filmes, “O Pequeno Príncipe” e “Divertida Mente” servem Poesia e Arte na bandeja da Ciência e da Tecnologia. Cabe a cada um procurar o pedaço de criança que ainda não se foi, aquele que ainda teima em fazer parte de nós.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
Taissa Beltão says:
4 de setembro de 2015 at 16:38Assisti os dois filmes, fantásticos! Adorei sua interpretação! Filmes para serem revistos pois tem muito conteúdo a ser interpretado e saboreado!
Annelise Gripp says:
10 de setembro de 2015 at 18:06Catherine,
Só consegui ver o Pequeno Príncipe e o filme me tocou muito. Primeiro que a história é tratada e desenvolvida com uma sensibilidade absurda. Vários momentos me emocionei e no fim chorei pq lembrei da minha infância, dos meus sonhos e de quantas coisas passaram de lá pra cá. É um filme pra ser visto mais que uma vez e por muitos adultos despertarem a criatividade.
Muito bom texto! Parabens!
Bjs
Annelise