O Sol na obra de Van Gogh

Hoje, dia 3 de maio, comemora-se o Dia Internacional do Sol.

Como todo mundo sabe, o Sol é a estrela central do Sistema Solar e a luz e calor que emite é a principal fonte de energia da Terra. Sem o Sol não existiria vida em nosso planeta. E nenhum outro pintor captou e soube transmitir a luz e a energia do Sol como Vincent van Gogh (1863-1890).

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“Campo com casas sob um céu com o disco solar”, de 1888. Desenho feito em Arles.

Cansado e desgostoso de Paris, Van Gogh passou os dois últimos anos de sua vida no sul da França, que os franceses chamam de Midi. Ele queria pintar ao ar livre, em um contexto mais luminoso. Em uma carta ao seu irmão Théo, em 1888, ele escreveu:

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“Salgueiros ao por do Sol”. Pintado em Arles, no outono de 1888.

Vim ao Midi por muitas razões. Por querer ver outra luz, crer que a contemplação da natureza sob um céu mais claro pode me dar um ideia mais exata da maneira de sentir e desenhar dos japoneses. Querer, enfim, ver este sol mais intenso, porque pressinto que, sem conhecê-lo, não é possível compreender desde o ponto de vista da realização e da técnica, as obras de Delacroix, e porque me intuiu que as cores do prisma se velam com as brumas do norte”.

A vinha e os seus vindimadores no Outono inspiraram a obra “Vinha encarnada“.  Ao descrever o quadro ao irmão Théo, Vincent disse que o tinha feito após a chuva, com o pôr do sol, pintando o chão de violeta e as folhas das parreiras de vermelho “como vinho“. O toque esverdeado no céu foi usado para contrastar com os tons de vermelho quente que dominam a composição.

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“Vinha encarnada”, de 1888.

Vinha encarnada” foi a única obra vendida de van Gogh em sua vida. Foi  exibida pela primeira vez na Exposição anual  de Bruxelas, em 1890 e adquirida pelo famoso colecionador russo Sergei Shchukin.

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“Doze girassóis numa jarra”, de 1888

Após a sua chegada ao sul de França, estabelecendo-se em Arles, Van Gogh “descobre” o sentido da cor e da luz. Doze Girassóis numa Jarra pode ser considerado o ápice de todo este efeito em sua obra. É como ele quisesse aprisionar pedaços do Sol em seus girassóis.

“Tive uma semana de trabalho carregado e duro nos trigais em pleno sol;  resultaram estudos de trigais, paisagem e um esboço de semeador. Num campo lavrado, um grande campo com torrões de terra violeta subindo contra o horizonte um semeador em azul e branco. No horizonte um campo de trigo curto e maduro. Sobre tudo isto, um céu amarelo com um sol amarelo.”

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“Semeador com o por do sol”, de 1888

Após uma violenta discussão com seu amigo pintor Paul Gauguin (1848-1903), e que teve como consequência a famosa mutilação de parte da orelha, Van Gogh foi internado no sanatório de Saint-Rémy.  Lá, o Sol continuava presente em suas criações.

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“Campo de trigo com ceifeiro e Sol”, de 1889. Pintado quando van Gogh estava internado no sanatório de Saint-Rémy.

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“Oliveiras com céu amarelo e Sol”, de 1889

Sol_VanGogh_Oliveiras-com-ceu-amareloEm seus últimos meses de vida, e durante uma das várias internações de van Gogh no sanatório de Saint-Rémy, ele descobriu na França  meridional uma fonte de inspiração inesgotável: as oliveiras. Com elas  compartilhou os últimos dias de sua vida turbulenta. Talvez uma destas obras mais significativas que tenha pintado foi “Oliveiras com céu amarelo e Sol“. Recentemente, esta obra foi uma das escolhidas em um projeto para sofrer um corte virtual de suas árvores como forma criativa de chamar a atenção para o desmatamento.

Van Gogh era fascinado pelos astros. Sol, Lua, estrelas. Procurava a luz à sua volta. Talvez para iluminar o seu interior sombrio. Ele precisava de todas as luzes da natureza para fazer germinar a natureza da sua Arte.

Autor: Catherine Beltrão

Comments(2)

  1. Responder
    Annelise Gripp says:

    Aplausos para o belo texto que escreveu, Catherine!
    Você conseguiu expressar em palavras a arte e a inspiração de Van Gogh.
    Eu amo os astros pelo simples fatos de todos eles estarem longe de mim e nao me da a liberdade de tocá-los, de saber se são tão lindos e vibrantes de perto quanto de longe. O mistério do sol, lua, estrelas, céu e universo nos da a oportunidade de criarmos imagens e ações, ilusões que jamais saberemos se são verdadeiras ou obras de nossas mentes.
    Parabéns pelo belo post!
    Bjks
    Annelise

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Obrigada, Annelise! Realmente, tive grande alegria ao escrever este post sobre o Sol de Van Gogh, tanto no que se refere à pesquisa das obras quanto ao desenvolvimento do texto como um todo. E é muito bom quando percebo que consigo também compartilhar esta alegria com outras pessoas! E Van Gogh propicia esta cumplicidade entre quem escreve e quem lê. Seu legado é fantástico!

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