Os arlequins de Picasso

O arlequim, segundo suas origens italianas na Commedia dell’Arte, criada no século XVI, é um personagem que divertia o público durante os intervalos dos espetáculos. Junto com os personagens de Pierrô e Colombina, formavam um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina…

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“Arlequim pensativo”. 1901

Pablo Picasso (1881-1973), foi talvez um dos artistas que mais pintou arlequins. Talvez ele se identificasse com o espírito alegre, jocoso e até mesmo malandro do personagem… quem sabe?

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“Acrobata e jovem arlequim” – 1905

Quanto à poesia, ela prefere o personagem Pierrô, mais apaixonado, mais triste, mais solitário… mas, mesmo assim, alguns poetas se dedicaram a interpretar o Arlequim: Cecília Meireles, como não podia deixar de ser, dedicou a este personagem um de seus pedaços de alma…

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“Familia Arlequim” – 1905

Arlequim“, de Cecília Meireles

A grande sala estava constantemente vazia.
O piano, às vezes, ficava aberto
e exalava um cheiro antigo de madeira, seda, metal.

As estátuas seguravam seus mantos,
Olhando e sorrindo, altas e alvas.

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“Arlequim com um copo” – 1905

E eu parava e ouvia o silêncio:
o silêncio é feito como de muitos guizos,
leves, pequeninos,
campânulas de flor com aragem e orvalho.

Quando abriam as cortinas,
pela vidraça multicor o sol passava
e deitava-se no sofá como um longo Arlequim.

Meu coração batia quase com o mesmo som
daquele relógio de cristal
que se via brilhar entre pequenas colunas
brancas e douradas.

Tudo era calmo e belo
e naquele sofá o Arlequim de luz dormia.

O poeta Menotti del Picchia também interpretou os sentimentos dos personagens do famoso trio amoroso, em seu poema “As Máscaras“.

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“Paul, filho de Pablo, vestido de Arlequim” – 1924

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“Arlequim” – 1915

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“Arlequim Sentado” – 1923

O teu beijo é tão doce, Arlequim…
O teu sonho é tão manso, Pierrô…

Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo…
e a Pierrô, minha alma!

Quando tenho Arlequim,
quero Pierrô tristonho,
pois um dá-me prazer,
o outro dá-me o sonho!

Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu…outro fala da terra!

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“Arlequim com guitarra” – 1918

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“Arlequim com guitarra” – 1918

Eu amo, porque amar é variar
e , em verdade, toda razão do amor
está na variedade…

Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrô fossem um ser somente.

Porque a história do amor
só pode se escrever assim:
Um sonho de Pierrô
E um beijo de Arlequim!

Pierrô, Arlequim e Colombina: três personagens que, passados cinco séculos desde sua criação, continuam vivos e brincantes nesta grande festa que é o Carnaval!

 Autor: Catherine Beltrão

 

Comments(2)

  1. Responder
    MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:

    Lindas pinturas. Ótima oportunidade de absorver mais um pouco de cultura e conhecimento. Poesias lindas.

  2. Responder
    Adeus à carne | Deus lo Vult! says:

    […] “Arlequim com um copo”, Pablo Picasso.cf. tb. “Os arlequins de Picasso” […]

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