O arlequim, segundo suas origens italianas na Commedia dell’Arte, criada no século XVI, é um personagem que divertia o público durante os intervalos dos espetáculos. Junto com os personagens de Pierrô e Colombina, formavam um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina…
Pablo Picasso (1881-1973), foi talvez um dos artistas que mais pintou arlequins. Talvez ele se identificasse com o espírito alegre, jocoso e até mesmo malandro do personagem… quem sabe?
Quanto à poesia, ela prefere o personagem Pierrô, mais apaixonado, mais triste, mais solitário… mas, mesmo assim, alguns poetas se dedicaram a interpretar o Arlequim: Cecília Meireles, como não podia deixar de ser, dedicou a este personagem um de seus pedaços de alma…
“Arlequim“, de Cecília Meireles
A grande sala estava constantemente vazia.
O piano, às vezes, ficava aberto
e exalava um cheiro antigo de madeira, seda, metal.
As estátuas seguravam seus mantos,
Olhando e sorrindo, altas e alvas.
E eu parava e ouvia o silêncio:
o silêncio é feito como de muitos guizos,
leves, pequeninos,
campânulas de flor com aragem e orvalho.
Quando abriam as cortinas,
pela vidraça multicor o sol passava
e deitava-se no sofá como um longo Arlequim.
Meu coração batia quase com o mesmo som
daquele relógio de cristal
que se via brilhar entre pequenas colunas
brancas e douradas.
Tudo era calmo e belo
e naquele sofá o Arlequim de luz dormia.
O poeta Menotti del Picchia também interpretou os sentimentos dos personagens do famoso trio amoroso, em seu poema “As Máscaras“.
O teu beijo é tão doce, Arlequim…
O teu sonho é tão manso, Pierrô…
Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo…
e a Pierrô, minha alma!
Quando tenho Arlequim,
quero Pierrô tristonho,
pois um dá-me prazer,
o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu…outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar
e , em verdade, toda razão do amor
está na variedade…
Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrô fossem um ser somente.
Porque a história do amor
só pode se escrever assim:
Um sonho de Pierrô
E um beijo de Arlequim!
Pierrô, Arlequim e Colombina: três personagens que, passados cinco séculos desde sua criação, continuam vivos e brincantes nesta grande festa que é o Carnaval!
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
26 de fevereiro de 2017 at 20:23Lindas pinturas. Ótima oportunidade de absorver mais um pouco de cultura e conhecimento. Poesias lindas.
Adeus à carne | Deus lo Vult! says:
5 de março de 2019 at 12:28[…] “Arlequim com um copo”, Pablo Picasso.cf. tb. “Os arlequins de Picasso” […]