Edith Blin (1891-1983), como já se mencionou várias vezes neste blog, é a “pintora da alma“. Começou a pintar tardiamente, após os cinquenta anos e, em suas quatro décadas de pintura, passou por variadas técnicas e variados temas. O tema “nu” constou de todas as etapas da evolução da artista, dos anos 40 aos anos 80.
Na década de 40, Edith fez três exposições individuais no Brasil, todas obtendo um enorme sucesso de público e de crítica. Em sua segunda exposição, em 1945, disse um dos maiores críticos da época Lopes da Silva: “… decorridos três anos – três anos de estudos incessantes e bem orientados – a pintora ressurge com sua mostra de 1945, afirmando-se então uma admirável retratista e, sobretudo, uma pintora de “nus” das mais interessantes e capazes. Vale mesmo afirmar, em tributo à verdade, que o “nu” produzido pelos pincéis da esplêndida artista francesa é perfeito e puro, eminentemente artístico. Há poesia e emoção a marca-los; há suavidade e beleza a distingui-los. Talvez esteja nesse fato a explicação do extraordinário êxito conseguido por Edith Blin, sempre que expõe seus trabalhos desse gênero, todos prontamente adquiridos por colecionadores do melhor matiz.
Modalidade de pintura em que muitos bons pintores claudicam e naufragam, quer tropeçando no trato da anatomia, quer excedendo-se na estrutura e colorido da carnação, o “nu” consegue a feição de arte pura e envolvente, sedutora e simples, quando dele se ocupa a admirável artista da Normandia. Um estudo demorado e uma sincera concepção de beleza deram a esta distinta pintora a virtuosidade precisa para conservar sua arte no plano real e verdadeiro, sem a mais leve faceta de volúpia ou de pecado. …”
Nas décadas de 50 e 70, Edith deixou de expor e dedicou-se a experimentar outras técnicas e suportes para suas criações. E seus nus passaram a ser feitos com pastel e na cartolina preta. A técnica de pastel era a de pastel seco, o que exigia que a artista usasse a ponta de seus dedos para espalhar e formatar o pó. Este procedimento resultou, com o passar do tempo, na perda de suas digitais. O uso da cartolina como suporte era para que pudesse ser mais facilmente destruída quando Edith não gostava de uma obra criada. E por que cartolina preta? A figura se sobressaía mais sobre fundo preto, o foco era totalmente direcionado na figura representada.
A última década, a dos anos 80, Edith já utilizava mais espátulas do que pincéis. Continuava dando mais importância à cartolina do que à tela. Os nus tornaram-se dilacerantes, quase que mostrados em carne viva. Impressionante o fantástico vigor da obra “Nu recostado em almofada vermelha“, feita quando a artista tinha 88 anos! E mais impressionante ainda é o “Nu com mãos na cintura“, feita após o seu primeiro derrame cerebral, em 1979.
Os nus de Edith Blin são belos e castos, vigorosos e ternos. Os nus de Edith Blin são únicos e sublimes.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
Eduardo Vieira says:
13 de outubro de 2014 at 01:22A pintora da alma deixa claro que também sabe elevar o envólucro, o corpo. Belos e sublimes.
Catherine Beltrão says:
21 de outubro de 2014 at 01:11Eduardo, você é magistral, tanto nos comentários analíticos quanto nos sintéticos, como este…