Painéis: Guerra, Paz e o Menino morto na praia

Mais de sessenta anos separam a criação destas imagens. Sessenta anos de evolução tecnológica e de evolução da sociedade. Mas o sofrimento das pessoas em meio a conflitos entre nações, este não mudou em sessenta anos. Dos célebres painéis “Guerra e Paz” de Portinari ao painel de ilustrações sobre o episódio do menino sírio refugiado encontrado morto em uma praia da Turquia, tudo continua igual. Ou pior.

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Painéis “Guerra e Paz”, de Portinari

Os painéis “Guerra e Paz“, de Cândido Portinari (1903-1962), foram inaugurados na sede da ONU, em Nova York, em 6 de setembro de 1956, sem a presença do autor, pois seu visto havia sido negado pelos Estados Unidos: Portinari era do Partido Comunista.

Quase 60 anos depois, em 8 de setembro de 2015, os painéis – duas gigantescas pinturas a óleo sobre madeira, com área total de mais de 280 metros quadrados – foram reinaugurados no hall da Assembleia Geral da organização com a presença de João Cândido, filho do pintor.

Em palestras, quando me perguntam se o quadro continua atual, mostro fotos do 11 de setembro, da guerra no Iraque e de outros conflitos atuais. Agora, tenho que incluir a foto no menino sírio morto em uma praia turca“, diz João Cândido à BBC Brasil.

A obra sobre a guerra feito por Portinari não traz imagens de armas, tanques ou soldados, porque ele preferiu se concentrar no sofrimento do povo em meio ao conflito, o mesmo sofrimento que seu filho João Cândido vê nas imagens que recentemente correram o mundo de refugiados em busca de abrigo na Europa.

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Sete ilustrações feitas a partir de uma foto de um menino sírio refugiado morto afogado em uma praia da Turquia

Assim como aconteceu em 7 de janeiro de 2015, no episódio da chacina de doze pessoas do jornal Charlie Hebdo, entre eles os renomados chargistas Georges Wolinsky, Jean Cabut e Bernard Verlhac, uma foto de um menino sírio, de 3 anos, aparecido morto em uma praia da Turquia, se tornou ícone da indignação e da revolta mundial contra a frieza e a inércia das nações europeias diante das tsunamis de refugiados vindos dos dois continentes vizinhos, a Ásia e a África.

A foto circulou de forma intensa na Internet e mobilizou vários artistas que começaram a usá-la para criar obras de significado profundo sobre a questão dos refugiados e de tantas infâncias perdidas e famílias dizimadas.

O artista usa sua Arte como forma de expressar indignação contra as atrocidades cometidas por seus pares. Canetas, pincéis e computadores são ferramentas de denúncia desta involução da humanidade. Quem ganhará esta batalha?

Autor: Catherine Beltrão

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