“Paris!”

Paris!” não é só uma obra de arte. A meu ver, é uma obra-prima.

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“Paris!”, de Edith Blin. 1944, ost, 64 X 53cm

 

Edith Blin (1891-1983) pintou “Paris!” em 1944. Sobre esta obra, disse Edith: ” Essa cabeça é o fruto de meu contentamento no dia da libertação da capital da minha França. Procurei, na expressão, colocar nos olhos e na boca aquilo que eu sentia. Pinto, pois, com os olhos voltados para o meu berço natal.” A obra faz parte da série “La Résistance“.

Paris não é só uma cidade. É a cidade luz.

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“Paris!”, de Edith Blin – detalhe

Paris, cidade milenar – sua origem remonta a mais de 2000 anos e seu nome se origina dos Parísios – foi o berço do “Iluminismo“, a época áurea da quebra de vínculo entre a ciência e a religião. E recebeu durante séculos as mentes mais iluminadas nas diversas vertentes das artes, atraídos para a cidade como estrelas que se juntam para formar uma luz maior. Assim pintores, escultores, arquitetos, músicos, bailarinos, artistas de todo o mundo mudaram para Paris, tornando-se a cidade, então, o centro de artes do mundo. Van Gogh, Picasso, Chopin, Modigliani, Chagall, Nureyev, entre centenas de outros, vieram de todos os cantos do mundo para respirar e iluminar o ar de Paris.

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“Paris!”, de Edith Blin – detalhe

E o que dizer dos grandes acontecimentos históricos dos últimos 250 anos que ocorreram em Paris? Entre muitos, só vou citar quatro deles. A escolha tem um denominador comum: a liberdade. Senão, vejamos: em 14 de julho de 1789, Paris presenciou a Tomada da Bastilha, que deu origem à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, eventos da Revolução Francesa; em 25 de agosto de 1944, foi em Paris a rendição dos alemães, dando fim à ocupação nazista, que perdurava desde 1940; em maio de 1968, Paris foi palco de um movimento estudantil que mostrou-se ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível e … em 7 de janeiro de 2015, ocorreu o atentado à sede do jornal “Charlie Hebdo“, em Paris, por integrantes radicais islâmicos, resultando em doze mortes, entre as quais alguns dos maiores chargistas franceses da atualidade, com influência em várias gerações. Esta última ocorrência irá, com toda certeza, ser em futuro próximo o epicentro de uma transformação gigantesca, político-religiosa, a ser espalhada nas mentes e corações dos povos.

O artista, este ser inquieto e sensível, não tem como não externar seus sentimentos frente a acontecimentos ligados à privação de liberdade. Ele compõe, ele dança, ele esculpe, ele desenha, ele pinta.

Edith Blin, artista pintora e cidadã francesa, não pintou “Paris!” em terras francesas. Em 1944, quando se deu a rendição das tropas alemãs em Paris, ela habitava o Brasil. Mas sua alma, sofrida com as atrocidades da guerra que matava seus compatriotas, pintava com os olhos voltados para o seu berço natal. E foi este sentimento de felicidade com a liberdade de sua pátria que guiou suas mãos ao pintar a obra. Definitiva e eterna.

Autor: Catherine Beltrão

 

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