Assim como as árvores, também sentimos o vento, a chuva e o sol. Que nos fazem viver. Assim como as árvores, também sentimos a carícia e o abraço. Que nos conforta. Assim como as árvores, também sentimos a pancada e o abate. Que nos mata.
Desde sempre, pintores, poetas e escritores louvaram flores, estrelas e …. árvores. Apresento neste post alguns destes registros.
O vento, de Cecília Meireles
O cipreste inclina-se em fina reverência e as margaridas estremecem, sobressaltadas.
A grande amendoeira consente que balancem suas largas folhas transparentes ao sol.
Misturam-se uns aos outros, rápidos e frágeis, os longos fios da relva, lustrosos, lisos cílios verdes.
Frondes rendadas de acácias palpitam inquietantemente com o mesmo tremor das samambaias debruçadas nos vasos.
Fremem os bambus sem sossego, num insistente ritmo breve.
O vento é o mesmo: mas sua resposta é diferente, em cada folha.
Somente a árvore seca fica imóvel, entre borboletas e pássaros.
Como a escada e as colunas de pedra, ela pertence agora a outro reino. Seu movimento secou também, num desenho inerte. Jaz perfeita, em sua escultura de cinza densa.
O vento que percorre o jardim pode subir e descer por seus galhos inúmeros: ela não responderá mais nada, hirta e surda, naquele verde mundo sussurrante.
Clarice Lispector: “Gosto das cores, das flores, das estrelas, do verde das árvores, gosto de observar. A beleza da vida se esconde por ali, e por mais uma infinidade de lugares, basta saber, e principalmente, basta querer enxergar.”
Mario Quintana: “Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes.”
Khalil Gibran: “Pode contar seus segredos ao vento, mas depois, não vá culpá-lo por contar tudo às árvores.”
Velhas Árvores, de Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Clarice Lispector: “Sou uma árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo.”
Tom Jobim: “Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz”
Provérbio indígena: “Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro.”
Árvore Verde, de Fernando Pessoa
Árvore verde,
Meu pensamento
Em ti se perde.
Ver é dormir
Neste momento.
Que bom não ser
estando acordado!
Também em mim
Enverdecer
Em folhas dado!
Tremulamente
Sentir no corpo
Brisa na alma!
Não ser quem sente,
Mas tem a calma…
Eu tinha um sonho
Que me encantava.
Se a manhã vinha,
Como eu a odiava!
Volvia a noite,
E o sonho a mim.
Era o meu lar,
Minha alma afim.
Depois perdi-o.
Lembro?
Quem dera!
Se eu nunca soube
O que ele era.
Martin Luther King: “Se soubesse que o mundo se acabaria amanhã, eu ainda hoje plantaria uma árvore.”
Mahatma Gandhi: “A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância.”
Khalil Gibran: “Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.”
E, por fim, esta magnífica obra de Dall’ara, pintada em 1906, representando, ao que tudo indica, a praça Getúlio Vargas de Nova Friburgo, onde se situa o ponto geodésico do Estado do Rio de Janeiro.
Vale a pena também apresentar aqui o vídeo “O homem que plantava árvores” (“L’homme qui plantait des arbres“), sobre um conto do romancista francês Jean Giono, vencedor do Oscar de melhor filme de animação em 1988. Para quem dispuser de 30 minutos para ver este magnífico vídeo, com certeza terá construído novos ramos em sua árvore de pensamentos e estes, quem sabe, poderão se transformar em ações no futuro.
Este post é dedicado às dezenas de árvores centenárias abatidas na Praça Getúlio Vargas, no centro de Nova Friburgo, em mais um janeiro negro desta cidade.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(4)
Eduardo Vieira says:
2 de fevereiro de 2015 at 23:02Ao ler um post como este, em meio ao massacre e o vilipendio moral imposto a praça Getulio Vargas em Nova Friburgo, tenho a visao de uma flor que floresce em pleno deserto, uma brisa de esperança apresentada pela arte e pela indignação quanto a realidade. Que mais ações como essa se desdobrem, se apresentem e se manifestem, pois o triunfo do mal ocorre sobre o silencio do bem.
Catherine Beltrão says:
3 de fevereiro de 2015 at 02:06Eduardo, tenho passado dias e noites bem atormentadas com este episódio vil que está acontecendo de duas semanas para cá, nesta praça Getúlio Vargas. Está muito difícil conviver com esta realidade, este massacre quase que diário, em um local que, mesmo não sendo minha terra natal, é o lugar que escolhi para viver os últimos anos de minha vida, junto aos verdes das montanhas e aos cantos dos pássaros. Com seus mais de cem eucaliptos centenários, a praça era o símbolo da cidade. Muito mais que o famoso Cão Sentado. Mesmo porque, não é todo mundo que pode escalar aquele morro, enquanto a praça está lá, pertinho de todos. Tudo poderia ter sido feito com estas árvores, menos decepá-las do jeito que está sendo. Sem cuidado nenhum. Sem segurança nenhuma. Sem ética nenhuma.
A Arte é meu trilho. É a arte que me segura e que me orienta nos bons e maus momentos. E este é um mau momento. Se consigo ver flores nos desertos, que bom que tenho este dom. E se tenho este dom, é fundamental que eu compartilhe estas flores. Quem sabe possa nascer frutos de algumas delas…
Annelise Gripp says:
3 de fevereiro de 2015 at 02:42Catherine, no meio de um momento tão triste você conseguiu misturar a arte escrita, de vários lindos poemas, com a arte visual, de belíssimas obras. É o que nos conforta no meio de tanto descaso pela natureza.
Belo post! Aplausos…
Bjs
Annelise
Catherine Beltrão says:
3 de fevereiro de 2015 at 02:54Annelise, quando estou no meio da lama movediça, que é o momento atual em que muita gente se encontra aqui em nossa cidade serrana, tento encontrar através da Arte algo que não me faça afundar mais. Acabo sempre encontrando e aviso a quem quiser ouvir/saber. Fico feliz que você tenha gostado do post…