Quadros roubados de Gauguin e Bonnard estiveram 40 anos na cozinha de trabalhador da Fiat

A polícia italiana anunciou, nesta recente quarta-feira (02 de abril, talvez para não se confundir com o Dia da Mentira… risos) a inesperada descoberta de dois quadros desaparecidos dos pintores franceses Paul Gauguin (1848-1903) e Pierre Bonnard (1867-1947), que tinham sido roubados em Londres, (em 1970!), da casa de uma rica família britânica.

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Quadros roubados, de Gauguin e Bonnard

Numa conferência de imprensa em Roma, e na presença do ministro dos Bens Culturais, Dario Franceschini, foi revelada a recuperação de Fruits sur une table ou Nature au petit chien, que Gauguin pintou em 1889, dedicado à condessa N(imal), e de La femme aux deux fauteuils, de Bonnard, sem data.

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“Fruits sur une table” ou “Nature au petit chien”, de Gauguin – 1889

A primeira pintura foi avaliada entre 15 e 35 milhões de euros. Para a segunda,  uma verba próxima dos 600 mil euros.

As duas telas foram recuperadas há cerca de dois meses, na Sicília, na cozinha de um operário reformado da Fiat. Segunda a descrição desta história dada pela polícia local, este trabalhador, um “apaixonado por arte”, comprou os dois quadros num leilão anônimo em Turim, quando lá ainda vivia, em 1975, tendo pago por ambos a quantia de 45 mil liras. Naturalmente desconhecendo o valor (e a identidade dos autores) das obras.

Bem, o operário, de posse dos quadros,  pendurou-os na parede da sua cozinha. Primeiro em Turim, depois na Sicília, quando se aposentou, e onde estiveram durante 40 anos até terem sido recuperados.

O percurso que a polícia italiana conseguiu reconstituir das obras diz que elas foram abandonadas, após o roubo em Londres, numa viagem de trem Paris-Turim, tendo depois ido parar à seção de  “Achados e Perdidos” da estação de de trens da cidade italiana. Foi daí que chegaram depois, anonimamente, ao leilão de 1975.

O trabalho da polícia italiana sobre este caso não está ainda concluído. Contudo, sabe-se já que os quadros de Gauguin e Bonnard eram propriedade da família londrina Mark-Kennedy. E “os herdeiros poderão, a partir de agora, reivindicar a propriedade das obras”, anunciou Mariano Mossa, responsável pela unidade da polícia italiana que tutela o patrimônio cultural.

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“La femme aux deux fauteuils”, de Bonnard

Também a forma como a polícia italiana chegou à identificação das obras tem contornos “extraordinários”. A partir da informação sobre o desaparecimento dos quadros, e tendo também recorrido a artigos publicados, na época, no The New York Times e num diário de Singapura, o departamento romano especializado em patrimônio roubado iniciou um demorado inquérito, que foi dirigido pelo procurador-adjunto Giancarlo Capaldo.

Os investigadores procuraram em catálogos de museus, de leiloeiros, e também na Internet, e foram descobrindo pormenores estranhos. Num deles, a polícia italiana teve acesso a fotografias dos quadros em posse do operário aposentado da Fiat.  Com recurso a advogados e especialistas, acabou por fazer a ligação entre essas telas e a notícia do seu roubo na capital inglesa em 1970.

Mas a investigação não está terminada, assinalou o general Mariano Mossa, fazendo notar que é preciso ainda reconstituir “as várias etapas do percurso dos quadros” desde o roubo em Londres até ao guichet dos “Achados e Perdidos” da estação de trens de Turim.

Um dos pormenores ainda a explicar é a redução do tamanho original da tela de Gauguin, de 49×54 cm, para os actuais 46,5×53 cm, porexemplo.

Enfim… uma ótima história e muitos mistérios ainda a serem decifrados. Daria ou não uma bom roteiro em Hollywood?

🙂

  Autor: Eduardo Vieira

 

Comment(1)

  1. Responder
    Catherine Beltrão says:

    Existem inúmeras histórias envolvendo obras de arte, totalmente desconhecidas do público. A meu ver, este é um grande filão para roteiristas de filmes, peças de teatro, minisséries… e não somente em Hollywood, mas aqui também!

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