“A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria“, já disse René Magritte (1898-1967) .
Magritte foi um dos principais representantes do surrealismo, ao lado dos artistas plásticos Salvador Dali e Max Ernst, além de Luiz Buñuel, no cinema, de André Breton, na poesia e de Antonin Artaud, no teatro.
E assim ele definia a sua pintura: “Minhas pinturas são imagens visíveis que não escondem nada. […] elas evocam mistério e, de fato, quando alguém vê uma de minhas imagens, faz a si mesmo esta simples pergunta:’ O que significa isso?’ e isso não significa nada, porque o mistério também não significa coisa alguma, é irreconhecível.”
Uma das principais obras de Magritte é, sem dúvida alguma, “La trahison des images” (“A traição das imagens“). Também conhecida como “Ceci n’est pas une pipe” (“Isto não é um cachimbo“), ele usa na pintura uma representação de um objeto como algo diferente daquilo que parece ser. Ou seja, a pintura não é um cachimbo; é uma imagem de um cachimbo. Se quisermos preencher a imagem com tabaco, não conseguiremos, não é mesmo?
Também muito conhecidas são duas das quatro obras intituladas “Les amants” (“Os amantes“). Nestas obras, os rostos e pescoços dos dois personagens estão cobertos por panos, podendo ter uma variedade de interpretações, a gosto do observador: eles se amam sem se ver; eles já se conhecem e não precisam se ver para se amarem; ou se ver não é importante para se amar; ou ainda que para ser feliz é preciso viver escondido… lembrando também que o corpo da mãe de Magritte, que havia se suicidado nas águas de um rio quando ele ainda era adolescente, ter sido encontrado com o rosto coberto por um pano.
Mais duas obras de Magritte podem ser apresentadas em paralelo: “La reproduction interdite” (“A reprodução proibida“) e “Le faux miroir” (“O falso espelho“). Em ambas as telas, a pintura não é um espelho que se limita a reproduzir as aparências. Não se trata de um espelho da realidade. É preciso ir além daquilo que se esconde. Na primeira obra, os reflexos do homem e do livro são tratados de forma diversa, o que causa desconforto e estranheza na sua contemplação. Na segunda obra, o olho humano está superdimensionado e, ao invés de proporcionar uma visão do que está por dentro da alma do homem, reflete o que está fora, um céu com nuvens.
Talvez a obra mais reproduzida e servido de base para uma infinidade de releituras seja “Le fils de l’homme” (“O filho do homem“).
Sobre a pintura, Magritte disse: “Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente. Bem, então você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível, mas oculto, o real rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós sempre queremos ver o que está escondido, pelo que vemos. Há um interesse no que está escondido e que o visível não nos mostra. Este interesse pode assumir a forma de um sentimento bastante intenso, uma espécie de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está oculto e o visível que está presente.”
Para terminar, mais uma frase antológica de René Magritte:
“Não há respostas em minhas pinturas, só perguntas“.
As respostas estão em cada um de nós.
Autor: Catherine Beltrão
Comment(1)
Espelhos says:
5 de outubro de 2018 at 03:23Exatamente o que eu procurava, obrigado