A velha senhora se chama Marie Pivert Blin. A velha senhora é mãe de Edith Blin. A velha senhora também era conhecida como a “Bonne Maman“. Minha bisavó.
Não cheguei a conhecê-la. Nossos caminhos se cruzaram, mas em planos diferentes. Ela partiu em dezembro de 1947 e eu cheguei alguns meses depois.
Edith foi nosso denominador comum. Marie e eu amamos Edith de uma forma que não dá para mensurar. Aquela forma que não cabe em formas de amor materno, de amor filial, ou de qualquer outro amor familiar. E Edith também nos amou desmedidamente.
Até onde sei, Marie era de pequena estatura, e possuía uma alma gigantesca. Normanda até o último fio de cabelo, passou para Edith a veneração pelo Mont Saint-Michel, aquele monumento que orgulha a nação francesa, senhor das marés e dos ventos uivantes. Veneração que acabou passando também pra mim.
Não tenho lembranças diretas de Marie, a “Bonne Maman“. Mas guardo lembranças das lembranças de Edith de sua “Boa Mamãe“: algumas fotos, uma poltrona bergère Luis X V (ou Luis XVI, não sei ao certo), um armário normando com mais de três séculos de existência…
Lembranças que um dia não serão mais lembranças. Lembranças que irão se transformar em histórias. Sem afeto. Sem tristezas. Sem risos. E, quem sabe até, sem família.
Autor: Catherine Beltrão
Comment(1)
Alair Siqueira Barros says:
3 de setembro de 2019 at 12:03Recordar é viver.