Hoje vamos falar de vento. E, por causa do vento, nasceram as pipas. E os cataventos.
Tudo indica que foram os ventos chineses os primeiros a absorver pipas e cataventos. Mas quem terá sido a primeira criança a empinar uma pipa? E qual delas soprou primeiro um catavento?
Cândido Portinari (1903-1962) pintou muitas pipas. Meninos soltando pipas. E foram muitos poetas que versaram sobre pipas: Bandeira, Drummond, Toquinho, Chico …
Canção da Pipa, de Manuel Bandeira
Voa, pequena pipa, voa,
Eleva-te com vontade aos ares
Empina, pequena coisa azul, empina,
Sobre a nossa catacumba de casas!
Se nós te seguramos pela linha
Tu te manténs nos ares
Escravo dos sete ventos
A levantar-te os obrigarás.
Drummond
“O bom da pipa não é mostrar aos outros.
É sentir individualmente a pipa dando ao céu o recado da gente.
Você solta o bichinho e se solta também!
Ele é a tua liberdade, teu eu girando por ai,
Dispensando de todos as limitações”
Esse menino, de Toquinho
Dentro do tempo, o universo na imensidão.
Dentro do sol, o calor peculiar do verão.
Dentro da vida, uma vida me conta
Uma história que fala de mim.
Dentro de nós, os mistérios do espaço sem fim.
Volto no tempo, menino, fieira e pião.
Sonhos embalam no vento a pipa e o balão.
Entre piratas e primas, tesouros
E medos de assombração.
Eu só sabia que a vida
Invadia os sentidos, regia o coração.
E o sol me aquecia e brilhava
Em qualquer estação.
Se hoje me perco nos labirintos da razão,
Vem o menino que eu fui e me estende sua mão.
E ele me acalma trazendo
A antiga e serena doce sensação.
Doze anos, de Chico Buarque, para a peça Ópera do Malandro
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
O futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E, disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de … pipoca
Alfredo Volpi (1896-1988) gostava de desenhar triângulos. E de triângulos a cataventos, é um pulo. E, para acompanhar, um poema de Affonso Romano de Sant’Anna:
Além do entendimento
A essa altura
há coisas
que (ainda)
não entendo.
Por exemplo:
o amor. Faz tempo
que diante dele
me desoriento.
O amor é intempestivo
eu sou lento.
Quando ele sopra
– estatelado –
mais pareço
um catavento.
Autor: Catherine Beltrão