Sete pipas e um catavento

Hoje vamos falar de vento. E, por causa do vento, nasceram as pipas. E os cataventos.

Tudo indica que foram os ventos chineses os primeiros a absorver pipas e cataventos. Mas quem terá sido a primeira criança a empinar uma pipa? E qual delas soprou primeiro um catavento?

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“Meninos Soltando Papagaios”, de Cândido Portinari. 1947

Cândido Portinari (1903-1962) pintou muitas pipas. Meninos soltando pipas. E foram muitos poetas que versaram sobre pipas: Bandeira, Drummond, Toquinho, Chico …

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“As Marias”, de Cândido Portinari

Canção da Pipa, de Manuel Bandeira

Voa, pequena pipa, voa,
Eleva-te com vontade aos ares
Empina, pequena coisa azul, empina,
Sobre a nossa catacumba de casas!

Se nós te seguramos pela linha
Tu te manténs nos ares
Escravo dos sete ventos
A levantar-te os obrigarás.

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“Empinando pipa”, de Cândido Portinari. 1942

Drummond

O bom da pipa não é mostrar aos outros.
É sentir individualmente a pipa dando ao céu o recado da gente.
Você solta o bichinho e se solta também!
Ele é a tua liberdade, teu eu girando por ai,
Dispensando de todos as limitações

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“Meninos soltando Pipas”, de Cândido Portinari. 1943

Esse menino, de Toquinho

Dentro do tempo, o universo na imensidão.
Dentro do sol, o calor peculiar do verão.
Dentro da vida, uma vida me conta
Uma história que fala de mim.
Dentro de nós, os mistérios do espaço sem fim.

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“Menino com pipa”, de Cândido Portinari

Volto no tempo, menino, fieira e pião.
Sonhos embalam no vento a pipa e o balão.
Entre piratas e primas, tesouros
E medos de assombração.

Eu só sabia que a vida
Invadia os sentidos, regia o coração.
E o sol me aquecia e brilhava
Em qualquer estação.

Se hoje me perco nos labirintos da razão,
Vem o menino que eu fui e me estende sua mão.
E ele me acalma trazendo
A antiga e serena doce sensação.

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“Meninos soltando pipa”, de Cândido Portinari. 1941

Doze anos, de Chico Buarque, para a peça Ópera do Malandro

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“Meninos soltando pipas”, de Cândido Portinari

Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
O futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E, disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de … pipoca

Alfredo Volpi (1896-1988) gostava de desenhar triângulos. E de triângulos a cataventos, é um pulo. E, para acompanhar, um poema de Affonso Romano de Sant’Anna:

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“Cataventos”, de Alfredo Volpi

Além do entendimento

A essa altura
há coisas
que (ainda)
não entendo.
Por exemplo:
o amor. Faz tempo
que diante dele
me desoriento.

O amor é intempestivo
eu sou lento.
Quando ele sopra
– estatelado –
mais pareço
um catavento.

 Autor: Catherine Beltrão

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