Hora de falar da Rússia.
A arte russa é monumental. Música, balé, pintura… Sem falar na literatura. Vou focar na pintura. E somente em três pintores: Chagall, Kandinsky e Soutine.
Marc Chagall (1887-1985) foi um pintor, ceramista e gravurista surrealista judeu russo-francês. Considerado um pintor solar, abusou de cores, fantasias e sonhos em suas obras.
E, por isso mesmo, precisou fugir das lideranças russas, que não viam relação entre Karl Marx, Lênin e uma vaca verde. A França o adotou. Ela aceitava mais bodes tocando violino, vacas voando, peixes segurando vela…
Em Paris, Chagall conheceu outros artistas, como Amadeo Modigliani e Guillaume Apollinaire.
Em 1956, Chagall recebeu uma encomenda de ilustrar um maravilhoso romance pastoral grego – “Daphnis e Chloé“. Ele passou 5 anos nesta tarefa, que resultou em 42 litografias magistrais.
Mas, embora tivesse passado pela Alemanha, França e EUA, Chagall sempre trouxe a alma russa para as suas obras:
“Todo pintor nasce em algum lugar. Embora mais tarde ele possa reagir às influências de outros ambientes, uma certa essência – um certo ‘aroma’ de seu local de nascimento – adere à sua obra.”
“Vão se passando os anos e a gente se sente cada vez mais uma ‘árvore’ que precisa do solo que lhe é próprio, da chuva e do ar que são seus.”
Wassily Kandinsky (1866-1944) foi um artista plástico russo, professor da Bauhaus e introdutor da abstração no campo das
artes visuais. Apesar da origem russa, adquiriu a nacionalidade alemã em 1928 e a francesa em 1939.
Kandinsky foi muito influenciado pela Música e pela Teosofia.
A influência da música foi bastante importante no nascimento da arte abstrata. A arte abstrata não representa o mundo exterior mas, sim, procura expressar, numa maneira imediata, os sentimentos interiores da alma humana. Kandinsky às vezes usava termos musicais para designar o seu trabalho; ele chamou a muitas das suas pinturas “Improvisações” e “Composições”. O compositor Arnold Schönberg, com quem Kandinsky manteve correspondência entre 1911 e 1914, marcou muito de suas criações. Para saber mais, clique aqui.
A teoria teosófica propõe que a criação é uma proporção geométrica, começando num único ponto. O aspecto criativo das formas é expressado por uma série descendente de círculos, triângulos e quadrados.
Na obra “Composição X“, pequenos quadrados e faixas de cores variadas parecem projetar contra o fundo preto fragmentos de estrelas ou filamentos, enquanto hieróglifos – ou seriam abstrações de notas musicais? – com tons de pastel cobrem o grande plano marrom, que parece flutuar no canto esquerdo superior da lona, adotada como suporte para esta obra. E mais alguém identificou um pentagrama nesta composição?
Chaïm Soutine (1893-1943) nasceu em uma pequena aldeia lituana, pertencente naquele momento ao Império Russo, sendo o décimo filho de uma família de onze irmãos. Seus problemas já começaram dentro de casa, pois seu pai não viu com bons olhos o interesse de Chaim por arte, visto que, dentro da comunidade judia ortodoxa onde viviam, estava proibida a representação de imagens.
Ele também, assim como Chagall e Kandinsky, veio para Paris. Estabeleceu-se em Montparnasse, junto a outros artistas. Entre seus amigos estava também Amedeo Modigliani.
Nunca foi capaz de pintar a não ser que tivesse um modelo à sua frente. Certa vez, Soutine horrorizou seus vizinhos, por manter uma carcaça de boi em seu estúdio, para que pudesse pintá-la (“Boeuf écorché“). O fedor fez com que os vizinhos chamassem a polícia, a quem Soutine prontamente dissertou sobre a importância relativa da arte acima da higiene. Hoje, as três versões dessa carcaça estão nos museus de Amsterdã, Grenoble e Buffalo.
Fazendo um paralelo entre Chagall e Soutine, o primeiro seria o dia, com o exterior predominando, a cor, a flor, a mulher… e o sonho, a imaginação. Já, Soutine representaria a noite, com a predominância do interior, do escuro, do sombrio, das entranhas, das carcaças.
Quanto à Kandinsky, a representação não se prende ao mundo exterior e ultrapassa o mundo interior. Seu abstracionismo remete a uma ligação com as sensações provocadas pela Música. Ou pelo Universo.
Autor: Catherine Beltrão