Em 1963, o filme tcheco “Um dia, um gato“, vencedor do prêmio do juri em Cannes, conta aos alunos de uma escola a vida de um professor, a história de um antigo amor e seu gato de óculos escuros. Ao tirar os óculos, o gato colore as pessoas de acordo com seus sentimentos e personalidades.
Este post apresenta 13 gatos, segundo os sentimentos e as personalidades de seus criadores: nove pintores e quatro escritores.
“O Gato de Botas“, de Charles Perrault (1628-1703)
Era uma vez um moleiro muito pobre, que tinha três filhos. Os dois mais velhos eram preguiçosos e o caçula era muito trabalhador.
Quando o moleiro morreu, só deixou como herança o moinho, um burrinho e um gato. O moinho ficou para o filho mais velho, o burrinho para o filho do meio e o gato para o caçula. Este último ficou muito descontente com a parte que lhe coube da herança, mas o gato lhe disse:
– Meu querido amo, compra-me um par de botas e um saco e, em breve, te provarei que sou de mais utilidade que um moinho ou um asno.
…………… (para saber o meio da história, clique aqui)
Então, o moço pediu a mão da princesa, e o casamento foi celebrado com a maior pompa. O gato assistiu, calçando um novo par de botas com cordões encarnados e bordados a ouro e preciosos diamantes.
E daí em diante, passaram a viver muito felizes. E se o gato às vezes ainda se metia a correr atrás dos ratos, era apenas por divertimento; porque absolutamente não mais precisava de ratos para matar a fome…
Impossível se falar em gatos e não citar o Gato de Cheshire, de “Alice no país das maravilhas“, de Lewis Carroll (1832-1898).
“Aonde fica a saída?”, Perguntou Alice ao gato que ria.
”Depende”, respondeu o gato.
”De quê?”, replicou Alice;
”Depende de para onde você quer ir…”, disse o gato.
“Eu não sei para onde ir!”, disse Alice.
“Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”
“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice.
” Você não pode evitar isso”, replicou o gato.
“Todos nós aqui somos loucos.Eu sou louco,você é louca”.
“Como você sabe que eu sou louca?” indagou Alice.
“Deve ser”, disse o gato, “Ou não estaria aqui”.
Mas os gatos também cabem na poesia… Pablo Neruda (1904-1973) já sabia disso, em “Ode ao gato“:
O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça.
Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato, quer ser só gato
e todo gato é gato, do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
E, para terminar, a delicadeza do andar sobrenatural do gato de Clarice Lispector:
“Quando de noite ele me chamar para a atração do inferno, irei. Desço como um gato pelos telhados. Ninguém sabe, ninguém vê. Só os cães ladram pressentindo o sobrenatural.”
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
Yeda cassoni says:
13 de janeiro de 2017 at 10:31Gosto muito de animais, mas os gatos…
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
14 de janeiro de 2017 at 20:09Página maravilhosa. Adorei tudo, mas principalmente Pablo Neruda e ri muito quando diz: “…o engenheiro que ser poeta (ou pintor)…”
Me diverti muito relendo “O Gato de Botas”.
Lindas pinturas. Muito, muito, muito bom ter tanta coisa linda para curtir. Parabéns.