Uma obra de arte vale mais que uma vida humana?

No filme “Caçadores de obras-primas” ( “Monuments Men“) esta pergunta é feita e respondida.

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“Madonna”, de Michelangelo. Uma das obras-primas roubadas pelos nazistas, posteriormente salva pelos “monuments man”

O filme recria a história verdadeira de um grupo de especialistas, conservadores, galeristas e artistas enviados à Europa pelo presidente Franklin D. Roosevelt para recuperar as obras roubadas pelos nazistas e protegê-las dos bombardeios aliados. Após 70 anos do final da Segunda Guerra Mundial, somente agora esta história é apresentada no cinema, sob a ótica norte-americana. Trailer e mais informações sobre o filme, clique aqui.

Mas a questão aqui não é opinar sobre o desempenho dos atores, ou mesmo sobre o tratamento sério e apaixonante que esta história merece. O foco, neste nosso contexto, é discutir se vale ou não a pena morrer para salvar uma obra de arte.

Me parece que, em primeiríssimo lugar, seria fundamental definir o que é uma “obra de arte”. Segundo o dicionário Aurélio, a obra de arte precisa ter qualidade. É a partir dessa definição que a discussão começa. Não se trata de morrer por  qualquer trabalho artístico feito por alguém. Artistas, e não artistas, já devem ter produzido bilhões de obras. Destas, milhões podem ser consideradas obras de arte.

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“A última ceia”, de Leonardo da Vinci. A obra mais enigmática do pintor, também roubada na 2º Guerra Mundial e recuperada pelos caçadores

Ao ser admirada, uma obra de arte pode transformar uma pessoa. A vida de uma pessoa. Ao serem admiradas, várias obras de arte  podem transformar muitas pessoas. As vidas de muitas pessoas. Grupos de pessoas. Povos.

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“La Liseuse”, de Renoir. Até onde sei, essa obra não foi roubada. É uma das obras-primas de Renoir, a minha preferida.

O que valoriza uma obra de arte? Seu contexto histórico, com certeza. Seu conhecimento,  entendimento e aceitação por um número cada vez maior de pessoas, com certeza. Sua manipulação mercantil, talvez.

No contexto familiar, o que vale uma vida humana? Muito. Um valor incalculável. E no contexto histórico, o que vale uma vida humana? Depende. Depende de sua importância neste contexto. Assim como a obra de arte.

A diferença é que o tempo de vida físico de uma pessoa é bem menor que uma obra de arte. A pessoa morre e a obra de arte permanece. É ela que vai contar a história de quem a criou e a História na qual ela foi criada. Daí reside a força, a importância e o valor de uma obra de arte.

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“Guernica”, de Picasso. Obra-prima do pintor, criada em 1937, a partir de seus sentimentos  sobre a Guerra Civil Espanhola

Sim, vale a pena morrer para salvar uma obra de arte. Seria uma forma de agradecer ao artista que a criou seu legado para a Humanidade.

 Autor: Catherine Beltrão

Comments(3)

  1. Responder
    Eduardo Vieira says:

    Lindo texto para um belo tema…

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      O tema é polêmico. Pelo visto, você concordou com meus argumentos…

  2. Responder
    nioraldo says:

    Alguma obra pode valer mais do que a obra de Deus ? a obra dele morre uma a cada segundo e nasce outra ao mesmo tempo, que obra é maior ?

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