Gosto muito de relacionar coisas. Outro dia, estava pensando em qual seria o instrumento musical mais representado na pintura. Após alguma pesquisa na Internet (olha ela aí de novo…), o violão já despontava na frente. Senão, vejamos:
Inicio com “Mulher tocando violão” , de Jan Vermeer (Holanda, 1632 – 1675). Vermeer, pintor consagrado com sua “Moça com brinco de pérola“, deixou somente 37 obras já catalogadas. Entre elas, esta outra pérola, um dos raros personagens sorridentes do pintor.
Sigo a minha pequena relação com a “Jovem espanhola tocando violão“, de Auguste Renoir (França, 1841 – 1919). Esta é uma das muitas obras que Renoir pintou moças e violões…
Primeiro deleite sonoro: Gavotte 1 e 2, de J. S. Bach, tocadas por Andrés Segovia (vídeo).
A lista segue com “A cigana adormecida“, de Le Douanier Rousseau (França, 1844 – 1910), uma das pinturas naives mais conhecidas do século XX. O próprio Rousseau comentou sua obra: “Uma caminhante negra, tocadora de bandolim, com uma ânfora ao lado (contendo água de beber), exausta da caminhada, dorme profundamente. Um leão aparece, aproxima-se e a cheira, mas não a devora. O luar é muito poético. A cena acontece em pleno deserto. A cigana usa roupas orientais.”
Dois grandes nomes e duas magníficas obras são agora acrescentadas à relação: Juan Gris (Espanha, 1887 – 1927), com o “Arlequim com guitarra” e Pablo Picasso (Espanha, 1881 – 1973), com o “Velho guitarrista cego“.
Em seus quarenta anos de vida, o cubista Juan Gris pintou várias obras com violões. Este “Arlequim” foi inspirado pela Commedia dell’arte, que também inspirou Picasso e Cocteau. E por falar em Picasso, o seu “Velho guitarrista” é uma das obras primas da fase azul, e uma de minhas preferidas deste pintor.
Segundo deleite sonoro: Choro n•1, de Villa Lobos, tocado por Turíbio Santos (vídeo).
O próximo é Henri Matisse (França, 1869 – 1954), com a obra “A Música“. É uma belíssima composição do artista, apresentando total domínio sobre a disposição das figuras, formas e cores. Interessante observar as pernas da mulher à esquerda e o violão, dispostos na diagonal da tela, a mesma posição dos braços de ambas as mulheres, a repetição das cores do vestido e pernas da mulher à esquerda com o violão…
Finalizando a relação, mais dois expoentes da pintura moderna: Di Cavalcanti (Brasil, 1897 – 1976), com sua “Moças com Violões” e Fernando Bottero (Colômbia, 1932), com “Homem com violão“.
O denominador comum que une esses dois artistas são suas figuras rotundas, cada qual com seu estilo. Como disse um dia o crítico Frederico Morais, “Di Cavalcanti deu à mulata brasileira a dignidade da madona renascentista, madonizou a nossa mulata.” Que bonito isso… Quanto a Bottero, a exemplo de Juan Gris, são muitas as obras que pintou com violões, seja acompanhando figuras humanas, seja compondo naturezas mortas.
Terceiro deleite sonoro: Tango Suite, de Astor Piazolla, com Duo Assad , composto para a dupla (vídeo).
Gostaria de frisar que a micro relação apresentada, constando de somente oito peças, pouco representa do universo de obras sobre o tema “violão na pintura”. São centenas de obras existentes, de renomados artistas. Caso alguém queira saber um pouco mais, clique aqui: este site apresenta 196 obras com o tema!
Em tempo: resolvi inserir neste post três vídeos apresentando momentos de rara beleza musical, reunindo músicos e compositores de primeiríssima estirpe: Segóvia tocando Bach, Turíbio tocando Villa-Lobos e o Duo Assad tocando Piazzola. Quer mais?
Autor: Catherine Beltrão