Você já viu Ron Mueck no MAM – RJ?

Com sucesso absoluto de público em Paris e Buenos Aires, a exposição com as esculturas hiper-realistas do australiano Ron Mueck chegou ao Museu de Arte Moderna do Rio no dia 20 de março, única cidade brasileira que irá receber a mostra.

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Mueck já é reconhecidamente um fenômeno no meio das artes, ainda que o próprio evite ao máximo circular socialmente nesses ambientes.

O acervo do escultor é ainda pequeno, com cerca de 40 obras, muitas ainda de acervo pessoal. Outras unidades são pertencentes ao museu Tate em Londres ou a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, responsável pela exposição em Paris e na América Latina.

Esse número ainda incipiente de obras, por si só, já nos dá uma dimensão da qualidade e curiosidade pelo trabalho de Mueck. É difícil citar artistas que tenham alcançado um patamar de reconhecimento mundial com tão poucas obras e em tão pouco tempo ´no mercado´.

Um de seus primeiros trabalhos artísticos, a obra “Dead Dad” (finalizada em 1997), se tornou uma das esculturas mais famosas mundialmente, contrariando tanto o ideal clássico da escultura quanto o da abstração modernista.

As características visuais da obra de Mueck formam um produto final bastante apropriado ao contexto atual, pelo estilo plástico hiperrealista e inusitado, de potencial altamente popular quando levamos em conta a quantidade de megapixels presentes em nossas câmeras digitais ou celulares de última geração, sempre no punho da geração  mais exibicionista de toda a história, disposta a compartilhar imagens e impressões (muitas vezes rasas) nas redes sociais.

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Aliás, prepare-se para, em meio a apreciação das esculturas, para ouvir seguidamente os ´clicks´ de ´selfies´ tirados pelos demais visitantes e até mesmo para, a pedidos, ajudar alguém a tirar uma divertida foto, dadas as proporções e tamanhos de algumas obras, característica  muito bem explorada pelo artista, garantindo reações das mais diversas, e divertidos instantâneos capturados.

Mueck trabalha sem pressa, sem brigar com o tempo em um ateliê em Londres, onde mora. Pode passar uma hora e meia fazendo apenas o olho de uma escultura. Tanto perfeccionismo teve origem ainda na infância, nas cobranças do pai, um alemão rigoroso. “Quando era criança, ele já fazia os bonecos e as marionetes para vender no mercado. O pai ficava o tempo todo dizendo ‘não, muda, não está bom, faz de novo’. Era uma exigência e daí essa super perfeição, esse detalhismo que ele tem para tudo”, conta Carlos Alberto Chateubriand, presidente do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro.

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A realidade (ou hiper-realidade) de seu trabalho é oriunda dessa paciente trabalho, feito a partir de materiais como resina, fibra de vidro e silicone. Ron Mueck revitalizou a escultura figurativa contemporânea, fazendo uso de uma rica diversidade de fontes, tais como fotografias jornalísticas, histórias em quadrinhos ou obras de arte históricas, memórias proustianas ou fábulas e lendas antigas, iluminando as verdades universais. Estes temas que parecem ser tão comuns também irradiam uma espiritualidade e profunda humanidade que provoca uma resposta.  Visando muito além das tradições do retrato, Mueck revela a natureza misteriosa da nossa relação com o corpo e a existência.  Trata-se de um trabalho único, muito realista sobre a vida humana, sobre a vida em geral.

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É muito curiosa a escala em que o artista trabalha. Quando você tende a ver uma escultura humana em grandes proporções, você tende a encará-la como um monumento, mas essa, definitivamente, não é a sensação quando se avista suas obras. Pelo contrário, elas parecem familiares e íntimas.

O presidente do MAM ainda explica que a figura que está em um barco à deriva é o pai do artista Ron Mueck. Em outra escultura, o próprio Mueck está retratado.

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Fotos de jornal, lendas e até desenhos animados. Tudo isso serve de inspiração para Ron Mueck. Em uma obra, chamada “À Deriva”, ele fez a partir de uma fotografia de um grande amigo, que tinha morrido. Uma homenagem eternizada pela arte.

As esculturas são carregadas de tensão. Mueck é um homem que gosta de estar só.  Ele foge de aglomerações,  que,  ironicamente,  é por onde passam suas exposições que batem recordes de público e de fotos que os visitantes tiram das obras.

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A exposição no Rio recebe nove obras de Mueck, um conjunto muito representativo do trabalho do artista, segundo a curadora da mostra Grazia Quaroni. Além das esculturas monumentais, a mostra exibe o documentário “Still Life: Ron Mueck At Work” (2011-2013), de Gautier Deblonde, que apresenta o artista trabalhando em seu ateliê e mostra o trabalho que ele faz com as mãos, sem utilizar recursos de computadores, segundo seu assistente, Charlie Clarke.

Entre as obras, três são inéditas e foram produzidas em 2013, especialmente para a mostra na América Latina. São elas “Woman With Shopping” (Mulher com as Compras), “Young Couple” (Jovem Casal) e a maior obra da exposição, “Couple Under a Umbrella” (Casal debaixo do Guarda-Sol).

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Aliás, prepare-se para as filas. Em poucos dias, um total de 15 mil visitantes já haviam passado pela  exposição, surpreendendo até mesmo os responsáveis pela organização.  A expectativa é levar pelo menos 300 mil pessoas até o fim da mostra, cujo encerramento será no dia 1º de junho. O público também é bastante variado, compreendendo várias faixas etárias e até visitantes de outros estados e países.  Chateaubriand informa que essa mesma exposição atraiu 400 mil pessoas em Paris e outras 180 mil quando passou por Buenos Aires.

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Ron Mueck
MAM-Rio – Museu de Arte Moderna do Rio
Av. Infante Dom Henrique 85 – Parque do Flamengo
Rio de Janeiro – RJ
ter – sex 12h – 18h
sab – dom e feriados 12h – 19h
a bilheteria fecha 30 min antes
www.mamrio.com.br

Informações / serviço: http://mamrio.org.br/museu/servico/

 Autor: Eduardo Vieira

Comments(2)

  1. Responder
    Catherine Beltrão says:

    Quero registrar este momento único, brindando o primeiro e excelente post de Eduardo Vieira, sobre Ron Mueck, atualmente com exposição imperdível no MAM/RJ! Obrigada, Eduardo, e que muitos outros posts venham enriquecer este blog recém-criado!

  2. Responder
    Ana Romaguera says:

    Excelente post! Um panorama geral sobre o artista e contextualização de seu trabalho.

    Estou louca para ver as obras de perto!

    Que eu tenha paciência para as filas… rs

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