No início deste ano resolvi focar escadas. Vou precisar delas. Para subir. Para descer também. Pois as escadas são as grandes companheiras de nossa trajetória de vida. Sempre.
“Escadas“, de Mario Quintana
Escadas de caracol
Sempre
São misteriosas; conturbam…
Quando as desce, a gente
Se desparafusa…
Quando a gente as sobe
Se parafusa
– o peito
estreito –
o teto descendo
Descendo descendo como nas histórias de imortal horror!
Mas de que jeito,
Mas como pode ser.
Morrer cair rolar por uma escada de parafuso ?
Além disso não têm, pelo dizem nenhuma acústica…
Oh ! Não há como as escadarias daqueles antigos
edifícios públicos
Para ser assassinado…
Porém não fiques tão eufórico,
– nem tudo são rosas:
Há,
No sonho das velhas casas de cômodos onde moras,
Passos que vêm subindo degrau por degrau em
direção ao teu quarto
E ‘sabes’ que é um fantasma chamejante e fosfóreo
– o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes !
O melhor
Mesmo
É fechar os olhos
E pensar numa outra coisa…
Pensa, pensa
– o quanto antes !
Naquelas podres escadas de madeira das casas pobres
– escurinho dos teus primeiros aconchegos…
Pensa em cascatas de risos
Escada a baixo
De crianças deixando a escola…
Pensa na escada do poema
Que tu
comigo
vem descendo
agora…
(Hoje em dia todas as escadas são para descer)
Mas não ! Este poema não é
Nenhum
Abrigo
Antiaéreo…
Ah, tu querias que eu te embalasse !?
Eu estava, apenas, explorando uns abismos…
“Das Pedras“, de Cora Coralina
Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
E no alto subi
Teci um tapete floreado
E no sonho me perdi
Uma estrada,
Um leito,
Uma casa,
Um companheiro,
Tudo de pedra
Entre pedras
Cresceu a minha poesia
Minha vida…
Quebrando pedras
E plantando flores
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude dos meus versos.
“O Tempo e o Vento“, de Mario Quintana
Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo
Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo
E o vento!
O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos…
Vaticano. Portugal. Holanda. Japão. Um dia, gostaria de fazer uma viagem com roteiro focando escadas.
Autor: Catherine Beltrão