Frans Krajcberg (1921-2017), nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, foi um pintor, escultor, gravador e fotógrafo. Formado em Engenharia e Artes na Rússia, lutou na Segunda Guerra Mundial, tendo perdido toda a sua família. Por puro acaso, Krajcberg veio para o Brasil, em 1948, onde também não tinha amigos e não conhecia a língua. E, aqui, ele renasceu. Krajcberg viveu em Nova Viçosa, interior da Bahia, desde a década de 70, e confeccionou a maioria de suas obras com cipós e troncos de árvores destruídas pelo fogo.
Segundo a marchand Marcia Barrozo do Amaral, que representa as obras do artista, Krajcberg vivia 24 horas por dia pela incansável luta pela natureza e pelo planeta. Na região de Itabirito, em Minas Gerais, o artista buscava os pigmentos naturais de origem ferrosa que utilizava em suas obras. Em Nova Viçosa, construiu a sua “Casa na Árvore”, pousada num pequizeiro.
Neste dia de 15 de novembro, Frans Krajcberg partiu para outra dimensão. Mas sua obra continuará gritando a plenos pulmões: não destruam a natureza!
A seguir, a voz do artista…
“Nasci neste mundo que se chama ‘Natureza’. O grande impacto da natureza foi no Brasil que senti. Aqui eu nasci uma segunda vez. Aqui eu tive a consciência de ser homem e de participar da vida com minha sensibilidade, meu trabalho, meu
pensamento. Aqui me sinto bem“.
“Eu andava na floresta e descobria um mundo desconhecido. Descobria a vida. A vida pura. Ser, mudar, continuar, receber a
luz, o calor, a verdadeira vida“.
“A única coisa que me segura aqui é isso: a natureza”
“A natureza me deu a grande possibilidade de continuar vivendo. Ela soube me dar a força e me deu o prazer de sentir,
pensar, trabalhar e sobreviver“.
“Meus trabalhos são meu manifesto. O fogo é a morte, o abismo. Ele me acompanha desde sempre. A destruição tem formas. Eu procuro imagens para meu grito de revolta“.
“A natureza coloca minha sensibilidade de homem e artista em questão”.
“O brasileiro em si não acordou pra ver a situação que está nesse país. Estamos completamente dominados pelo dinheiro. Ao
mesmo tempo o país está sendo destruído absolutamente. Então eu acho que precisamos dizer : Basta, vamos salvar neste país o
resto de beleza que ainda possui: a Amazônia“.
“É pena que o brasileiro não conheça o Brasil… é revoltante!”
“Antes era a guerra do homem contra o homem; hoje, e é a guerra do homem contra a natureza“.
Krajcberg fez Arte da madeira calcinada. Da morte. Transformou troncos retorcidos pelo fogo em manifestações do belo. Por ter plantado uma floresta de obras contundentes nos corações e mentes daqueles que ainda sentem, sua voz de desespero e revolta continuará ecoando, cada vez mais, e mais forte.
Autor: Catherine Beltrão
Comment(1)
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
17 de novembro de 2017 at 11:08Belíssima homenagem a este incrível artista do belo, da natureza, das árvores, dos galhos, do fogo, do retorcido e do morto.
Felizmente sabemos que deverá estar agora vivendo espiritualmente no interior de uma natureza indestrutível.
Lindo Catherine.