Já falei dos girassóis e dos autorretratos. Já falei do quarto da Casa Amarela. E de várias outras casas. Agora é hora de falar dos sapatos. Dos sete sapatos de Vincent Van Gogh.
Os sapatos revestem o caminhar. E pra onde estes caminhos nos levam? Os poetas, com quase toda certeza, já trilharam todos estes caminhos…
“Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra…”, de Vinicius de Moraes. 2004
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra
Dá-me o teu antigo paletó sujo de ventos e de chuvas
Dá-me o imemorial chapéu com que cobrias a tua paciência
E os misteriosos papéis em que teus versos inscreveste.
Meu pai, dá-me a tua pequena chave das grandes portas
Dá-me a tua lamparina de rolha, estranha bailarina das insônias
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos.
Afundo um pouco o rio com meus sapatos.
Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul.
Manoel de Barros
Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter… calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida.
Clarice Lispector
Desde que conheci você
sinto como se estivesse andando
com pequenas asas nos meus
sapatos
como se meu estômago estivesse
cheio de borboletas.
Affonso Romano de Sant’Anna
Às vezes chego a pensar que os sapatos só existem pra que tivessem a chance de serem pintados por Vincent van Gogh.
Autor: Catherine Beltrão