Até o Carnaval chegar…

O que a gente faz até o Carnaval chegar?

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Foliões dionisíacos. (Desenho de vaso grego)

Bem, eu – seguindo minha paixão pela pesquisa e curiosidade incontida – resolvi pesquisar a origem da festa e os artistas que pintaram o Carnaval.

Vocês sabiam que o Carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C.? É o que diz a Wikipédia, o oráculo dos internautas. Nessa festa, os gregos (e as gregas) realizavam seus cultos ao semideus Dionísio, regente do vinho e dos prazeres da carne, onde as festas mostravam uma inversão de papéis sociais: o  miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobrezinho, o libertino aparecia  como guia religioso, a  prostituta local posava como a mais pura donzela, machos reconhecidos vestiam-se como fêmeas, e assim por diante. Dionísio, que era quase deus mas adorava uma brincadeira, estimulava que virassem o mundo pelo avesso.

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“A Luta entre o Carnaval e a Quaresma”, de Pieter Bruegel, 1559

Aí, veio a era cristã, e o Carnaval passou a ser uma comemoração adotada pela Igreja Católica em 590 d.C., quando a Idade Média já  dava seus primeiros passos. Agora, pasmem: nestes tempos médios, o período do carnaval era marcado pelo “adeus à carne” ou do latim “carne vale“, antes do período do jejum da Quaresma, dando origem ao termo “carnaval”.  “Adeus à carne”… de lá pra cá, muita coisa mudou.

Muitos foram os artistas que pintaram o Carnaval. Seria impossível apresentar todos por aqui. Novamente, terei que fazer uma seleção subjetiva.  Com exceção de Pieter Bruegel, Debret, Edith Blin e Miró, optei por obras de artistas brasileiros.

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“Cena de Carnaval”, de Debret, 1823, aquarela

O francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pintou em 1823 a aquarela “Cena de Carnaval“. Nela, o artista mostra uma negra sendo atacada na rua por um negro de cartola (fantasiado portanto de “senhor”), o que demonstra que, já naquela época, os assédios trogloditas dos blocos de hoje já existiam, assim como  o mau costume de urinar nas ruas, também devidamente registrada por Debret, em outra aquarela.

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“Carnaval”, Edith Blin – ost, 1945, 65 X 49cm

 

Edith Blin (1891-1983), francesa e autodidata, não consta de nenhuma lista de pintores famosos. Ainda não. Tendo vivido 55 anos no Brasil, conviveu muito com a alma brasileira. Ipanema, orquídeas, hippies, pierrôs… tudo era motivo para Edith pintar. E o carnaval não podia faltar. Pintou alguns. Este ao lado foi o primeiro, datado de 1945. Será que essa alegria toda das mulheres era por causa do fim da Segunda Guerra Mundial? Acho que não…

 

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“Carnaval”, de Carybé – 1986, ost, 35 X 50cm

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“Carnaval nos Arcos”, de Heitor dos Prazeres, ost, 1961

Carybé (1911-1997), nascido na Argentina mas naturalizado brasileiro, fez, em 1929,  a decoração dos bailes carnavalescos do Hotel Glória e do Copacabana Palace. Grande amigo de Jorge Amado, ilustrou alguns de seus livros.

Heitor dos Prazeres (1898-1966), além de pintor autodidata, foi compositor. Um dos pioneiros do samba carioca, Heitor compôs seu maior sucesso, Pierrô Apaixonado, em parceria com Noel Rosa. Nos anos 20, Heitor dos Prazeres foi um dos fundadores da escola de samba que mais tarde chamou-se GRES Portela, primeira vencedora num concurso entre escolas em 1929.

 

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“Carnaval”, de Portinari. 1960

Cândido Portinari (1903-1962), o maior nome no cenário da pintura brasileira, está presente em todos os temas. Não poderia estar fora do Carnaval. Nas telas e na avenida. Em 2012, foi homenageado pela escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, com o samba-enredo “Por ti, Portinari, rompendo a tela, a realidade“.

 

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“Carnaval”, de Di Cavalcanti. – 1970, ost, 97 X 146cm

Di Cavalcanti (1897-1976), um dos maiores expoentes do movimento modernista brasileiro, era apaixonado pela vida boêmia do Rio de Janeiro. Assim, pintava cenas do carnaval, bares noturnos, prostíbulos, festas populares e … a mulata brasileira.  Assim Di definia o carnaval: “No carnaval eu sempre senti em mim a presença de um demônio incubo que se desvendava como um monstro, feliz por suas travessuras inenarráveis. É uma das formas de meu carioquismo irremediável e eu me sinto demasiadamente povo nesses dias de desafogo dos sentimentos mais terrivelmente terrenos de meu ser.”

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“Carnaval em Madureira”, de Tarsila do Amaral

 

Infuenciada por Fernand Leger, o carnaval de Tarsila do Amaral (1886-1973)      pode perfeitamente comportar um ícone francês, a Torre Eiffel, por que não? Para esta artista maior do modernismo brasileiro, Madureira e Paris podiam, sim, conviver no mesmo espaço da imaginação, as cores vivas e as formas arredondadas nas mulheres e morros e as cores neutras e formas cubistas na Torre…

 

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“O Carnaval de Arlequim”, de Miró – ost, 1924

Um post sobre Carnaval não poderia deixar de apresentar Joan Miró (1893-1983).  A obra “O Carnaval de Arlequim” já foi exaustivamente analisada por críticos e professores de arte. Mas, a meu ver, o mais interessante é se procurar, entre os inúmeros elementos presentes na tela, o que atiça nossa imaginação, o que nos leva a pensar ou a achar graça… Uma curiosidade: parece que Miró criou esta obra, alucinado pela fome que passava naquela época.

É isso. O Carnaval ainda não chegou e eu fiquei sabendo um pouco mais sobre esta festa pagã, parece que a primeira que se tem notícia no mundo. Será?

 Autor: Catherine Beltrão

 

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