Tomie Ohtaque, a dama que se vai…

Tomie Ohtaque (1913-2015), a dama das artes plásticas no Brasil, acaba de partir. Assim como Oscar Niemeyer, em mais de um século de vida, deixa obras que já são eternas.

tomieTomie Ohtake é uma pintora japonesa naturalizada brasileira. Aos vinte e um anos de idade emigrou para o Brasil, iniciando sua carreira aos quarenta anos. É uma das principais representantes do abstracionismo informal. Sua obra abrange pinturas, gravuras e esculturas, muitas delas expostas em locais públicos, principalmente na cidade de São Paulo, como pode ser visto no Auditório Ibirapuera.

 

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Escultura no Auditório do Ibirapuera

O projeto arquitetônico do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, é de autoria de Oscar Niemeyer e, em seu interior, a escultura de Tomie Ohtake, representando uma imensa onda vermelha, valoriza ainda mais o espaço.

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“Paisagem”, que fez parte da mostra “Nippon-100 anos de Integração Brasil-Japão”, no CCBB-RJ, em 2008.

Escreveu o crítico Paulo Herkenhoff,
 curador do MoMA Museum of Modern Art/Nova York, em 2002: “A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral, tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar em nosso olhar um haicai
 perdido”.

Em entrevista à Folha de São Paulo, em novembro de 2013, Tomie lembrou de não pertencer à vertente concretista da arte: “Sempre desenhei curvas e retas, mas faço tudo com a mão, então não fica perfeito. Gosto de fazer formas livres.”

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Monumento aos 80 anos da Imigração Japonesa

Uma homenagem da artista à imigração japonesa no Brasil foi esta escultura, localizada no canteiro central da avenida 23 de maio, em São Paulo. Na época em que foi erguida, eram comemorados os 80 anos da chegada dos japoneses ao país.  Centro Cultural São Paulo (CCSP).

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“Estrela do mar”, na lagoa Rodrigo de Freitas, anos 90. Não existe mais.

A escultura “Estrela do Mar”, que gerou muita polêmica na época,  flutuou na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1985 a 1990. A obra, de formas onduladas, ficava na altura do Parque da Catacumba. Infelizmente, a estrela não existe mais, nem na lagoa, nem fora dela. Tudo indica que foi fundida.

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“Guaracuí”, no município de Registro/SP.

Mais um pouco do pensamento de Tomie Ohtaque: “Minha obra é ocidental, porém sofre grande influência japonesa, reflexo de minha formação. Esta influência está na procura da síntese: poucos elementos devem dizer muita coisa. Na poesia haicai, por exemplo, fala-se do mundo em 17 sílabas”.

Em 2002, Tomie doou um monumento ao município de Registro, em São Paulo. No local onde se encontrava uma árvore guaracuí, a artista doou uma tulipa de aço, denominada também “Guaracuí“, enfeitando o Parque Prefeito José de Carvalho”, conhecido como “Praça Beira Rio”, também em homenagem à vinda dos japoneses ao Brasil.

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“Monumento Tomie Ohtaque”, em Santos

O “Monumento Tomie Ohtake“, de autoria da artista, foi erguido em Santos em 2008, em homenagem aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil. A escultura de aço pintado de vermelho, de 15 metros de altura, como se fosse uma fita gigante, está localizada na Praia José Menino.

Consideradas marcos nas cidades onde estão localizadas, as 27 esculturas de Tomie Ohtaque são a maior prova que um artista não morre. Ele permanece vivo enquanto existirem pessoas que valorizam a obra que criou.

Autor: Catherine Beltrão

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