Outro dia estava pensando na famosa Casa Amarela de van Gogh. E me veio logo à mente a Casa Azul, de Frida Kahlo. Juntando o amarelo e o azul, me veio a cozinha e a sala de jantar da casa de Monet, em Giverny.
Claude Monet (1840-1926) viveu na casa de Giverny de 1883 a 1926. Ele criou, fora e dentro da casa, uma atmosfera que se confunde com suas pinturas e pôde viver ali por vários anos, até morrer.
A sala de jantar amarela parece ter saído de um recanto dos jardins da casa. As almofadas das cadeiras são de xadrez azul e branco e há louças amarelas, azuis e brancas. As porcelanas e gravuras azuis que decoram a sala, já introduzem a atmosfera da cozinha ao lado.
A cozinha, toda azul, é grande sem deixar de ser acolhedora. Azulejos em abundância emolduram as panelas de cobre e as cortininhas xadrez. E flores… flores por toda parte.
Uma das pinturas noturnas de Vincent van Gogh (1853-1890), retrata a famosa Casa Amarela em que o pintor morou em Arles, no sul da França, por menos de um ano, antes de morrer. A cor amarela da fachada foi escolhida pelo próprio pintor: um “amarelo-manteiga”, segundo sua próprias palavras.
“A minha casa aqui é pintada por fora de amarelo-manteiga e tem persianas em verde forte; fica rodeada de sol, numa praça, onde também há um parque verde com plátanos, aloendros , acácias. Por dentro é pintada de branco e o chão é de azulejos vermelhos. E por cima, o céu de azul luminoso. Lá dentro posso, com efeito, viver e respirar e pensar e pintar”.
Van Gogh alugou a parte direita de um prédio de dois andares, onde pensou criar uma escola de arte. Mandou pintar a casa da cor amarela, que para ele era muito importante e bastante simbólica. Seria talvez mais um sol para iluminar e aquecer sua alma conturbada. Quando pintou o quadro, ele resolveu colorir todas as casas de amarelo na tela, e não só a sua. Esta obra talvez seja representativa do sonho de vida e de arte de Vincent van Gogh. Mais que isso: talvez represente o sonho de vida de qualquer um de nós: realizando ou não, todos nós temos um sonho na vida.
Frida Kahlo (1907-1954) nasceu na Casa Azul de Coyoacán, na cidade do México e lá viveu toda a sua trágica e sofrida vida. Quatro anos após sua morte, a casa transformou-se em museu.
A casa pertenceu à família Kahlo desde 1904 e foi morando ali que Frida se consolidou como artista e lenda. Contraiu poliomielite na infância, que a deixou manca e sofreu um grave acidente aos 18 anos, que a impossibilitou de ser mãe.
Casou-se com o muralista Diego Rivera em 1929, que também passou a morar na Casa Azul. Ambos eram entusiastas do comunismo e tinham fotos de Mao, Lenin, Marx e Stalin em seu quarto e em outros cômodos pela casa. O casal também abrigou Leon Trotsky, que morou um tempo na casa azul e com quem acredita-se que Frida tenha tido um caso. Por sua vez, Diego traiu Frida com sua própria irmã, dentro da mesma casa. Quando descobriu, Frida externou sua tristeza em alguns detalhes da casa, como um relógio que marca o dia em que terminaram, e o dia em que reataram.
Alguns objetos pessoais estão à mostra no museu: vestidos, cartas de amor, o espelho pendurado na cama de onde ela fazia seus autorretratos enquanto não podia se locomover.
Monet, van Gogh e Frida: três artistas irmanados por duas cores, o amarelo e o azul de suas moradas.
Autor: Catherine Beltrão