Os barcos de meu pai

“Hoje entendo bem meu pai…”. Esta é a primeira frase que encontramos no site de Amyr Klink. Mas poderia também estar no site de Ivan Beltrão, meu pai.

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Amyr Klink

Amyr Klink (1955) é um navegador brasileiro que ficou conhecido por ter feito viagens ao redor do mundo, como da Antártica ao Ártico. Amyr tem em seu currículo mais de 2500 palestras proferidas, no Brasil e exterior, ao longo de mais de 30 anos como palestrante.

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Ivan Beltrão, em 1955

Ivan Beltrão (1923-1979). Um pintor. Um poeta. Um cientista. Um gênio. Meu pai. Como pintor, meu pai usou cores para expressar suas emoções e preto e branco para desvendar seus mistérios. Seus barcos são imensos abrigos coloridos que transportam a imaginação de quem os contempla para os mares da fantasia.

Neste post, as textos em itálico são de Amyr Klink. As imagens dos barcos são de obras de Ivan Beltrão (Ivan Blin, como assinava).

 

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“Barco colorido em fundo escuro”, de Ivan Blin. 1960.

Pior que não terminar uma viagem é nunca partir.

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“Vela”, de Ivan Blin. 1970.

 Um homem precisa viajar.
 Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv.
 Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
 Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
 Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto.
 Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.
 Um homem precisa viajar para lugares que não conhece
para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos,
e não simplesmente como é ou pode ser.
 Que nos faz professores e doutores do que não vimos,
quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.

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“Barcos”, de Ivan Blin. 1970.

O mar não é um obstáculo: é um caminho.
 Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir.

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“Dois barcos”, de Ivan Blin. Déc. 70.

Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão.
 Um estado interior que não depende da distância…
 Nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas…
 E que a simples companhia ou presença humana não pode preencher.
 Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti…Nunca…Em momento algum.
 Estava, sim, atacado de uma voraz saudade.
 De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via.
 Mas a saudade às vezes faz bem ao coração.
 Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias.
 Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão;
poderá morrer de saudade…Mas não estará só!

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“Thamar”, de Ivan Blin. Déc. 60.

Descobri como é bom chegar quando se tem paciência.
 E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão.

Há 37 anos, meu pai se juntou à estrelas, com as quais já tinha partilhado noites e noites de vigília, pintando telas ou escrevendo poesia e ciência. Tanto era o conhecimento que transmitia, que foram muitos seus discípulos de alma e sabedoria. Tanta era a luz que dele irradiava, que deve ser agora uma das luzes-guia do Universo, a servir de norte para seus navegantes errantes… (texto retirado do site www.ivanbeltrao.com).

Autor: Catherine Beltrão

Comment(1)

  1. Responder
    Verônica Alves says:

    Que palavras maravilhosas, para pessoas como eu que adora viajar e conhecer lugares e culturas diferentes caiu como uma luva. Realmente muitas vezes vejo pessoas arrogantes dentro do seu mundinho de ignorância, por falta de viajar.

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