Na história da Arte, o autorretrato é a representação que o artista faz de si mesmo, tendo surgido como gênero forte no século XV. E por que o artista retrataria a si próprio? Do ponto de vista prático – e este foi um motivo bastante utilizado por um grande número de artistas – ele próprio é o modelo mais disponível e barato que dispõe. Mas existe também a necessidade de o artista marcar seu tempo decorrido, ou suas experiências de vida se for o caso, para serem registradas ad aeternum. E não se pode ainda descartar o aspecto narcisístico de se retratar, tendendo a esconder alguns traços físicos ou psicológicos de sua personalidade.
Iniciaremos a apresentação com um autorretrato do italiano Leonardo da Vinci (1452 a 1519), considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido. Num estudo realizado em 1926, seu QI foi estimado em cerca de 180. Esta autorretrato se encontra na Biblioteca Real de Turim. Embora o desenho esteja inacabado, cada cabelo e pelo de sua barba mostra alto grau de precisão.
Rembrandt (1606-1669), pintor holandês, foi um dos artistas que mais se retratou, tendo pintado a si mesmo quase 100 vezes! Através dos seus autorretratos, é possível, por exemplo, conhecer o percurso da sua vida, desde a juventude à velhice, mostrando-nos o homem de vontade indomável, mas solitário. A obra apresentada ao lado mostra o artista em sua juventude e se encontra na Alte Pinakatothek, em Munique/Alemanha.
Edgar Degas (1834-1917), de nacionalidade francesa, estudou os autorretratos de Rembrandt e deixou-se inspirar por eles. Em 2011/12, uma exposição justapondo Rembrandt e Degas, incluindo alguns autorretratos, percorreu um roteiro em que constaram o Rijksmuseum, em Amsterdã, o The Clark Art Institute, em Williamstown e o The Metropolitan Museum of Art, em Nova York. A obra ao lado, representando o artista na juventude, se encontra no The Getty Museum, em Los Angeles.
O francês Auguste Renoir (1841-1919), um dos maiores pintores impressionistas, mestre em fixar em suas telas a luz, o brilho e a beleza das coisas, dizia: “A dor passa, mas a beleza permanece”. Também é dele este texto: “A pintura não é uma fantasia vã. É, antes de tudo, um trabalho manual e é necessário realizá-la como um bom operário.” A obra ao lado pertence ao Sterling and Francine Clark Art Institute, em Williamstown/Massachusetts.
O holandês Vincent van Gogh (1853 – 1890) pintou trinta e cinco autorretratos entre os anos 1886 e 1889. Em 23 de dezembro de 1888, véspera de Natal, após uma discussão com Gauguin, Vincent cortou um pedaço do lóbulo da sua orelha esquerda. Após sair do hospital, em 6 de janeiro de 1889, o pintor concebeu este autorretrato apresentado ao lado. Ao fundo, pode-se ver um quadro com japonesas à frente do Monte Fuji e a parte superior de um cavalete com uma tela em branco à esquerda. Esta obra está exposta no Instituto Courtauld de Arte, em Londres.
Paul Gauguin (1848-1903), de origem francesa e grande amigo do van Gogh, também se retratou com objetos representativos de sua trajetória de vida. O autorretrato apresentado ao lado mostra objetos trazidos de Tahití (pintura Manao tupapau). À esquerda do pintor encontramos o passado marcado pelos acontecimentos e pelos objetos. À direita, existe um triângulo verde, ainda vazio, talvez representando os eventos futuros de sua vida. A obra está exposta no Museu d’Orsay, em Paris.
Segundo o Guiness, o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) foi o mais prolífico de todos os pintores, com 13.500 pinturas e desenhos, 100 mil gravuras, 34 mil ilustrações de livros e 300 esculturas ou cerâmicas. “Yo Picasso” é o título da primeira grande exposição individual sobre o auto-retrato, de Picasso. Foi realizada em 2013, no Museu Picasso, em Barcelona. Com o auto-retrato, o artista espanhol foi além de seus momentos biográficos. Expressou sentimentos, preocupação e pensamentos. A obra “Auto-retrato”, enquadrada no precubismo , pertence à Galeria Narodni, Praga.
Entre os anos de 1948 e 1951, o pintor francês Henri Matisse (1869-1954) também se dedicou à construção e decoração de uma capela, em Vence, França. Seu amigo Picasso criticou a decisão de Matisse, que era ateu, em se envolver com um símbolo católico. “Se não rezamos, não temos o direito de representar a oração”, argumentou Picasso. “Mas nós rezamos. Nosso trabalho é, ele próprio, uma oração“, foi a resposta de Matisse. A obra ao lado pertence ao Statens Museum for Kunst, em Copenhagen.
Aqui termina o texto referente à primeira parte deste post. Para quem quiser saber mais sobre autorretratos de artistas como Frida Kahlo, Fernando Botero, Lucien Freud, Francis Bacon, Ismael Nery, Tarsila do Amaral, Guignard e Iberê Camargo, aguarde só mais um pouco. Logo virá a parte II.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
Eduardo Vieira says:
18 de julho de 2014 at 04:03Interessante a analogia com a moda atual de ´selfies´ e suas variações. Aborda um tema que a geração contemporânea – sem sombra de dúvidas a mais exibicionista de toda a História – deveria se aprofundar em profícuos debates.
Catherine Beltrão says:
18 de julho de 2014 at 11:55Eduardo, você viu o tema do programa “Na Moral” ontem? A discussão foi essa: os “selfies” como mote principal na Internet. Impressionante a coincidência… na parte II do texto, vou desenvolver esta ideia.