“O quarto em Arles”, de Vincent van Gogh

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“Autorretrato”, de Vincent van Gogh. 1889, ost

Vincent van Gogh (1853-1890) nasceu na Holanda e morreu na França. Em vida, o artista passou fome e frio e conheceu a miséria, vendendo apenas uma pintura. Maior expoente do pós-impressionismo e precursor do expressionismo, fauvisme e abstracionismo, van Gogh foi sempre sustentado pelo irmão Theodorus, com quem trocou mais de 750 correspondências.  Em sua fase mais produtiva, dos anos 1880 a 1890, van Gogh foi totalmente ignorado pela crítica e pelos artistas. Atualmente, os seus quadros estão entre os mais caros do mundo. Em 1990, “O Retrato de Dr. Gachet“, pintado um século antes, foi comercializado por US$ 82,5 milhões.

A obra “Quarto em Arles” não é uma só obra. Ela apresenta três versões, todas pintadas nos últimos anos de sua vida, entre 1888 e 1889. Atualmente, as três versões estão em museus. A primeira obra está exposta no Museu van Gogh em Amsterdã, Holanda. A  segunda versão da pintura encontra-se no Instituto de Artes de Chicago e a terceira pode ser apreciada no Museu de Orsay, em Paris.

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“Quarto em Arles”, de Vincent van Gogh. Primeira versão.

O quarto em questão ficava na Casa Amarela, um casarão na cidade de Arles, no sul da França, onde van Gogh foi morar em 1888, alugando quatro cômodos, dois no térreo e dois no andar superior. Aos poucos, foi mobiliando e decorando a casa com quadros que pintava, sobretudo da série “Girassóis”.

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“Quarto em Arles”, de Vincent van Gogh. Segunda versão.

Na tentativa de analisar a obra, muito se falou sobre os objetos apresentados em pares : travesseiros, cadeiras, portas, quadros nas paredes, jarras de água. O discurso mais comum é o da “espera de um amigo” que, no caso, seria Paul Gauguin, grande pintor e uma conturbada amizade de van Gogh. Existe também a possibilidade de estar à “espera de um amor”, que ele estaria querendo após ter sido recusado por algumas mulheres no decorrer da vida. Mas van Gogh também poderia estar representando a “espera do amado irmão Theo”, que o apoiou financeiramente e afetivamente até o último de seus dias. Mais uma possibilidade de explicação dos famosos pares de objetos seria o de estar sempre guardando um espaço para um outro irmão que nasceu morto um ano antes de seu próprio nascimento e de quem herdou o nome e, por consequência, um fardo perpétuo.

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“Quarto em Arles”, de Vincent van Gogh. Terceira versão.

Qual seria a verdadeira explicação? Por enquanto, só hipóteses. E por que van Gogh teria insistido e pintado estas três versões do quarto, com todos os objetos exatamente colocados nos mesmos lugares? Alguém teria a resposta à pergunta?

De qualquer maneira, a obra tinha o objetivo de trazer uma sensação de repouso e descanso, conforme o artista escreveu a seu irmão Theo: “Desta vez é simplesmente um dormitório; só que a cor deve predominar aqui, transmitindo, com a sua simplificação, um estilo maior às coisas, para sugerir o repouso ou o sono. Em resumo, a presença do quadro deve acalmar a cabeça, ou melhor, a imaginação. As paredes são de um violeta pálido. O chão é de quadros vermelhos. A madeira da cama e das cadeiras é de um amarelo de manteiga fresca; o lençol e os travesseiros, limão verde muito claro. A colcha é vermelha escarlate. O lavatório, alaranjado; a cuba, azul. As portas são lilases. E isso é tudo – nada mais neste quarto com as persianas fechadas. O quadrado dos móveis deve insistir na expressão de repouso inquebrantável. Os retratos na parede, um espelho, uma garrafa e algumas roupas. A moldura – como não há branco no quadro – será branca.”

  Autor: Catherine Beltrão

Comments(2)

  1. Responder
    Eduardo Vieira says:

    Nunca escondi de ninguem minha predileção pela obra e pela vida que encontro na obra de Van Gogh. Ter a chance de ver algumas de suas obras no lindo musee d’orsay é uma das mais doces lembranças que tenho em vida. Fico muito grato por este post, Catherine, pelo cuidado com todas as informações aqui expostas e esse delicioso mistério que paira sobre a obra. Muito bom!

  2. Responder
    Giulia says:

    Não sabia disso

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