Gladíolos…

Às vezes, vale juntar flores e batalhas. É quando se fala de gladíolos.

Gladíolo vem do latim Gladius que significa Gládio, ou espada, devido a sua forma longa e pontiaguda. A referência à espada se dá por causa dos Gladiadores Romanos que recebiam a flor quando saíam vencedores do combate. Por isso seu simbolismo é de vitória em batalha.

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“Jarro com gladíolos”, de Vincent van Gogh

 

Na minha opinião, o mais belo poema envolvendo gladíolos é de Arthur Rimbaud (1854-1891): “Le dormeur du val” (“Adormecido no vale“, em tradução de Ferreira Gullar).

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“Gladíolos”, de Claude Monet

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“Glaieuls”, de Chaim Soutine

“Le dormeur du val”

C’est un trou de verdure où chante une rivière,
Accrochant follement aux herbes des haillons
D’argent ; où le soleil, de la montagne fière,
Luit : c’est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l’herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine,
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.

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“Gladíolos em um jarro”, de Pierre Auguste Renoir

 

“Adormecido no vale”, em tradução de Ferreira Gullar

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“Gladíolos em ascensão”, de Edith Blin

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“Gladíolos”, de Anita Malfatti

É um vão de verdura onde um riacho canta
 A espalhar pelas ervas farrapos de prata
 Como se delirasse, e o sol da montanha
 Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
 Banhando a nuca em frescas águas azuis,
 Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
 Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os gladíolos, sorri mansamente
 Como sorri no sono um menino doente.
 Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
 Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
 Tem dois furos vermelhos do lado direito.

Van Gogh, Renoir, Soutine, Monet, Anita Malfatti e Edith Blin. E Rimbaud. Uma voz em um berço de cores e perfumes. E que voz… que cores… que perfumes!

Autor: Catherine Beltrão

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