Vincent van Gogh (1853-1890) foi um dos maiores gênios da pintura que já existiu. E como é sublime seguir suas pegadas, se sentir no aconchego de sua arte, da cor e do movimento que imprimiu em suas obras. Este post apresenta impressões de alguns escritores – Cecília Meireles, Mario Quintana, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Jonh Lennon – e de um engenheiro pintor – Miguel Arruda – sobre a arte de Van Gogh.
“Se não fosse o Van Gogh, o que seria do amarelo?”, de Mario Quintana
“Canção para Van Gogh“, de Cecília Meireles
Os azuis estão cantando
no coração das turquesas:
formam lagos delicados,
campo lírico, horizonte,
sonhando onde quer que estejas.
E os amarelos estendem
frouxos tapetes de outono,
cortinados de ouro enxofre,
luz de girassóis e dálias
para a curva do teu sono.
Tudo está preso em suspiros,
protegendo o teu descanso.
E os encarnados e os verdes
e os pardacentos e os negros
desejam secar-te o pranto.
Ó vastas flores torcidas,
revoltos clarões do vento,
voz do mundo em campos e águas,
de tão longe cavalgando
as perspectivas do tempo!
No reino ardente das cores,
dormem tuas mãos caídas.
Luz e sombra estão cantando
para os olhos que fechaste
sobre as horas agressivas.
E é tão belo ser cantado,
muito acima deste mundo…
E é tão doce estar dormindo!
É preciso dormir tanto!
(É preciso dormir muito…)
“Os girassóis de Van Gogh“, de Manoel de Barros
Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas.
Hoje eu vi homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito.
E como a dor me abaixasse a cabeça,
Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh.
“A Noite Estrelada“, de Ferreira Gullar
Quando, em 1890, Vincent van Gogh (1853-1890) se dispôs a pintar uma noite estrelada e se pôs diante da tela em branco, nada ali indicava por onde começar. Mas acordara, naquele dia, decidido a inventar uma noite delirantemente estrelada, como imaginava frequentemente e não se atrevia a fazê-lo não se sabe se por temer errar a mão e pôr a perder o sonho ou se porque preferia guardá-lo como uma possibilidade encantadora, uma esperança que o mantinha vivo.
Aliás, já tentara antes expressar na tela seu fascínio pelo céu constelado. Um ano antes, pintara duas telas em que fixava a beleza do céu noturno -uma dessas telas mostra a entrada de um café com mesas na calçada e, ao fundo, no alto, o céu negro ponteado de estrelas; a outra tela é uma paisagem campestre sob as estrelas. Mas eram como ensaios, tentativas de aproximação do tema que continuava a exigir dele a expressão plena, ou melhor, extrema, como era próprio de sua personalidade passional.
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Como começar a pintá-la, se ela não existe? Diante da tela em branco, tudo é possível e, por isso mesmo, nada é possível, a menos que se atreva a começá-la. E assim, num impulso, lança a primeira pincelada que, embora imprevista, reduz a probabilidade infinita do vazio e dá começo à obra -ou seja, transforma o acaso em necessidade.
E assim foi que a sucessão de pinceladas, de linhas e cores, aos poucos definiu uma paisagem noturna que era mais céu que terra: um pinheiro que liga o chão ao céu e, lá adiante, a pequena vila sobre a qual uma avassaladora tormenta cósmica se estende, como se assistíssemos ao nascer do Universo.
Finalizando, uma citação de John Lennon:
“Não é divertido ser artista. Beethoven, Van Gogh, todos eles: se tivessem psiquiatras nós não teríamos esses gênios.”
Autor: Catherine Beltrão
Comments(2)
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
27 de novembro de 2016 at 12:34Seu trabalho é espetacular e maravilhoso. Conte comigo para tudo que eu puder ajudar. Parabéns por toda essa cultura da beleza, da cor, do sol, das flores, das bailarinas, do amor. É tudo muito lindo.
Catherine Beltrão says:
28 de novembro de 2016 at 19:09Muito obrigada, Miguel! Se consigo fazer algo bonito e que traga calor no coração das pessoas, é porque tenho a Arte como suporte e gente como você, que faz e sente Arte. Um grande abraço!