Jacques Klein (1930 – 1982), considerado um dos maiores pianistas do século XX, era brasileiro. Cearense de nascimento, foi no Rio de Janeiro que viveu plenamente a sua carreira e a sua vida. Em 1953, o artista começou sua grande carreira ao conquistar o 1º lugar no Concurso Internacional de Genebra que, na época, era considerado o mais importante concurso no mundo. Venceu outros 113 candidatos, vindos de 33 países, com interpretações de Bach, Beethoven e Chopin. Dois detalhes: desde 1948, o concurso não dava o primeiro lugar a ninguém e o primeiro lugar de Jacques foi uma unanimidade entre o júri. Também foi um grande professor de piano, tendo como seu mais importante discípulo o pianista Arnaldo Cohen. Na parte burocrática, foi diretor da Sala Cecília Meireles e fez parte da direção da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Klein era um músico admirado por todos, e em todos os continentes. Tinha um toque quase divino e um som dourado, difícil de se encontrar. Seus concertos eram de sonhos, iluminados. Foi protagonista de vários episódios memoráveis. Uma vez, tocando a Sonata de J.Brahms nº3, a luz da Sala Cecília Meireles apagou e Jacques continuou tocando no escuro para delírio de seus ouvintes. Foi ovacionado quando acabou a obra, já com a luz acesa.
Outro episódio. Contam que, certa vez, durante o carteado, um amigo de Jacques Klein se levantou da cadeira provocando um determinado ruído. “Arrastado em fá sustenido”, atirou Klein em tom certeiro. Logo, todos foram ao piano conferir: estava correto. A história, com cara de lenda, não é o resultado de uma habilidade mágica ou bruxaria. O músico tinha o que se chama de ouvido absoluto, a capacidade de reconhecer qualquer som. Assim como tem ouvido absoluto o grande compositor e meu grande amigo, Ronaldo Miranda. Mas isso é assunto para outro post.
Diferentemente de Gleen Gould, que abandonou os palcos com 32 anos, dedicando-se então somente a registros fonográficos, Jacques Klein deixou pouquíssimos registros de seu virtuosismo pianístico. Poucos aúdios e quase nenhum vídeo. Esta entrevista, dada em 1964, é uma verdadeira relíquia. Nela, ele toca um trecho final da “Alma Brasileira“, de Villa-Lobos.
Nos anos 60, Jacques Klein deu muitos concertos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu não perdia um. Junto ao maestro Isaac Karabtchevsky, foram inúmeras as vezes em que o pianista tocou o Concerto Nº 1 de Tchaikowsky ou o Concerto Nº 2 de Rachmaninoff. Após pesquisar na Internet, consegui reunir alguns vídeos, apresentando áudios da interpretação de Klein destes dois concertos. Para os interessados, vale a pena clicar nos links abaixo: Concerto Nº 2 de Rachmaninoff: parte1, parte 2 e parte 3 e Concerto Nº 1 de Tchaikowsky: parte 1 e parte 2.
Hoje, eu não me surpreenderia que grandes artistas brasileiros como Nelson Freire, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Isaac Karabtchevsky e Ronaldo Miranda, só para citar alguns, consideram Jacques Klein como um ícone da arte pianística brasileira, um mito a ser permanentemente lembrado.
Autor: Catherine Beltrão