Iberê Camargo (1914 – 1994), pintor gaúcho, é um dos grandes nomes da arte brasileira do século XX. É autor de uma obra extensa, incluindo pinturas, desenhos, guaches e gravuras. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1942 e lá viveu por 40 anos.
Sem dúvida, o tema mais recorrente em sua obra é o carretel. De acordo com o próprio Iberê, o carretel traz à superfície as mais profundas memórias de sua infância. Ele significa a distância entre inocência e maturidade, figuração e abstração.
O próprio título das obras muda, e a palavra ‘carretel’ é substituída por ‘brinquedo’, ‘figura’, ‘contraste’, ‘símbolos’ ou, ainda, ‘signos’.
Acerca dos carretéis, ele explica:
“Minha pintura em nenhum momento abandonou a estruturação da fase dos carretéis. Esses, embora pareçam soltos, livres no espaço (fundo) do quadro, estão solidamente interligados por linhas de força, como os corpos celestes no sistema planetário.
Por isso, não sinto nenhuma afinidade com Pollock ou De Kooning. Minha volta à figura (em verdade nunca a abandonei) se deve ao esgotamento do tema e à necessidade de tocar a realidade que é a única segurança do nosso estar no mundo – o existir. […]”
E vale muito a pena apresentar aqui algumas de suas frases:
“Arte, para mim, foi sempre uma obsessão. Nunca toquei a vida com a ponta dos dedos. Tudo o que fiz, fiz sempre com paixão.”
“As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias da minha infância.”
“É preciso que o fruto que está dentro do artista amadureça no vagar do tempo. Aquele que tem pressa em vendê-lo, fará frutos de cera ou irá apanhá-los no pomar do vizinho.”
“Só a imaginação pode ir mais longe no mundo do conhecimento. Os poetas e os artistas intuem a verdade. Não pinto o que vejo, mas o que sinto.”
“O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.”
“A realidade é um enigma que o tempo não banaliza, e o homem não decifra. Ela é a esfinge que nos devora.”
“Debruço-me sobre este misterioso poço, insondável, que existe em cada homem.”
“A realidade é um enigma que o tempo não banaliza, e o homem não decifra. Ela é a esfinge que nos devora.”
“O pintor é o mágico que imobiliza o tempo.”
“No fundo, um quadro para mim é um gesto, é o último gesto.”
Esta última frase é perturbadora. Para Iberê, cada obra pintada poderia ser a última. E, um dia, foi. Assim como para qualquer um de nós, cada refeição preparada (ou degustada), cada sala varrida, cada verso escrito, cada página lida, cada abraço dado, poderá ser o último. E um dia, será.
Autor: Catherine Beltrão