Suprematismo, a abstração sem maquiagem

Estamos em 2014 e, surpreendentemente, poucos sabem o que vem a ser o Suprematismo, movimento russo de arte abstrata, surgido por volta de 1913.  A sistematização teórica deste movimento data de 1915, a partir do manifesto Do Cubismo ao Suprematismo: o Novo Realismo na Pintura, escrito por Kazimir Malevich em colaboração com o poeta Vladimir Maiakóvski.

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“Quadrado branco sobre fundo branco”, de Malevich – 1918

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“Composição suprematista”, de Malevich – 1920

O Suprematismo defende uma arte livre de finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica. Trata-se de romper com a ideia de imitação da natureza, com as formas ilusionistas, com a luz e cor naturalistas – experimentadas pelo impressionismo – e com qualquer referência ao mundo objetivo que o cubismo de certa forma ainda alimenta.

Surge uma nova proposta pictórica: formas geométricas básicas – quadrado, retângulo, círculo e cruz – associadas a uma pequena gama de cores. O quadrado era para o artista a forma zero, isto é, a forma da qual todas as demais derivam. Zero não de fim, mas de recomeço. É uma forma que não existe na natureza e que, portanto, não pode ser associada a ela. Uma forma puramente mental, de criação do homem, um verdadeiro ícone de uma arte do mundo das ideias, das sensações, das intuições.

Malevich (1879 -1935) se detém na pesquisa metódica da estrutura da imagem, que coincide com a busca da “forma absoluta”, da molécula pictórica. Como ele mesmo afirma no manifesto de 1915: “Eu me transformei no zero da forma e me puxei para fora do lodaçal sem valor da arte acadêmica. Eu destruí o círculo do horizonte e fugi do círculo dos objetos, do anel do horizonte que aprisionou o artista e as formas da natureza. O quadrado não é uma forma subconsciente. É a criação da razão intuitiva. O rosto da nova arte. O quadrado é o infante real, vivo. É o primeiro passo da criação pura em arte”.

 

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“Composição com vermelho, amarelo, azul e preto”, de Mondrian – 1921

 

Embora tendo sido fundador do movimento neoplasticismo, considero o pintor Piet Mondrian (1872 – 1944) um clássico representante do suprematismo. Sua mais famosa obra, a “Composição com vermelho, amarelo, azul e preto“, utiliza como elemento de base, uma superfície plana, retangular e as três cores primárias com um pouco de preto e branco. Essas superfícies coloridas são então distribuídas e justapostas buscando uma arte pura.

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Decoração de saleta de recepção a partir de Mondrian

 

No século XX, Mondrian influenciou a arquitetura, a decoração, a moda, o design em geral. Vale a pena clicar aqui, para ver dezenas de objetos/ambientes baseados na arte pictórica deste artista.

Até onde sei, não temos representantes do suprematismo aqui no Brasil. Mas, particularmente, considero Amílcar de Castro (1920 – 2002), o inventor da técnica de corte e dobra para resolver um problema, nos anos 60: uma obra não representaria mais alguma coisa, ela é um objeto em si, de significação puramente plástica. Esta ideia tem origem no próprio manifesto do Suprematismo, do início do século passado.

“Carranca”, de Amilcar de Castro – 1978

 

É importante lembrar que no final dos anos 1950, os neoconcretos – Amílcar de Castro, como também Franz Weissmann, Lygia Clark e Lygia Pape –  retomam a ideia do suprematismo, cada um dentro de suas próprias questões. Mas isto já é assunto para outro post.

Autor: Catherine Beltrão

 

Comment(1)

  1. Responder
    Kíssila Muzy says:

    Seria o Suprematismo uma tentativa de alcançar o espírito da cultura humana em sua vertente estritamente lastreada na racionalidade? Como filhos da natureza que somos, creio que seja um desafio e tanto tentar afastar-se completamente das formas naturais em busca de algo que pudesse ser tido pura e exclusivamente como fruto das reflexões humanas.
    Continuarei pensando no assunto.
    Obrigada pelo post. Uma demonstração da conexão íntima entre a arte e a filosofia.

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