Surge uma nova nação: Je suis Charlie

Francisco J. Olea

Charge de Francisco J. Olea

 

banksy

Charge de Banksy

Oppenheimer

Charge de R. Oppenheimer

Há pouco mais de dois dias, uma gigantesca tsunami de ideais de indignação e de liberdade está se espalhando ao redor do nosso planeta. O epicentro foi o atentado, em Paris, à sede do “Charlie Hebdo“, jornal satírico semanal, criado em 1970, em susbstituição ao “Hara-Kiri“, publicação proibida de circular na época, por conta de uma sátira à morte do general Charles de Gaulle.

Jornal libertário, o “Charlie Hebdo” ataca e implica com a extrema direita e também com o Partido Comunista, com a hierarquia judaica e também com o conservadorismo católico, ou com o terrorismo islâmico.  Ou seja, com tudo o que possa ser oriundo do fanatismo, seja político ou religioso. Ou com ideias retrógradas, engessadas no tempo.

Magnus Shaw

Charge de Magnus Shaw

Vítimas do atentado do dia 7 de janeiro, a morte de doze pessoas do jornal – entre elas os renomados chargistas Georges Wolinsky, Jean Cabut e Bernard Verlhac, além do jornalista e diretor do jornal Stéphane Charbonnier – fez reavivar no coração e na alma de muita gente o sentimento de indignação, há muito pisoteado e asfixiado com a pasteurização da violência pela mídia mundial.

plantu

Charge de Plantu

Jean Julien

Charge de Jean Julien

A frase dita em 2011 por Stéphane Charbonnier – “eu prefiro morrer de pé do que viver de joelhos” – parece ter encontrado eco nas mentes de milhares, milhões de pessoas neste planeta Terra, humilhadas cotidianamente por todo tipo de governos, de ditaduras assumidas a democracias mascaradas.

Criada há apenas dois dias, a frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie“)  virou sinônimo de liberdade de expressão. Mas liberdade de expressão não só de jornalistas ou de cartunistas, e sim de quaisquer profissionais, liberais ou não, que fazem do seu trabalho, sustento e prazer; liberdade de expressão não só de franceses ou de europeus, mas sim de quaisquer habitantes deste planeta, homens ou mulheres, que fazem do seu existir, uma evolução cotidiana.

Está surgindo uma nova nação Je suis Charlie. É quase certo que não terá contorno geográfico, pois seus limites não estarão limitados a países ou continentes, e sim a mentes e corações. Mas esta nação já possui bandeira. De duas cores: preto e branco.

JesuisCharlie

Autor: Catherine Beltrão

Comments(4)

  1. Responder
    Taissa says:

    Semana muito triste… triste fato!
    Belo texto! Coração de luto!
    É uma liberdade mascarada… onde muito se sabe e pouco se faz, estamos numa geração de medos, de verdades absolutas e fanatismos… sinto que o egocentrismo domina, não se vê mais o bem comum… o outro.
    Espero que as máscaras caiam e que consigamos mover um pouco essa roda.

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      A manifestação de 4 milhões de pessoas no domingo, dia 11, em Paris, a favor da liberdade de expressão, mostra bem a força desta nação que está surgindo. Foi uma manifestação pacífica, reunindo adeptos de religiões e etnias diversas, irmanados com o sentimento de rejeição ao fanatismo e ao medo. Hipocrisia? Talvez de alguns. Mas, com certeza, não da maioria.
      A roda está se movendo.

  2. Responder
    Edgar Alexander says:

    Será que uma nova era de liberdade de expressão está surgindo, ou será que é um acirramento entre radicais, onde os radicais que representam o islamismo aplaudem de pé mais um assassinato, e os ultra nacionalistas encontram mais um motivo para fechar fronteiras e discriminar imigrantes?
    Será que a liberdade de expressão deve ser ampla, geral e irrestrita, ou o direito termina quando a intenção é uma ofensa gratuita a um povo, um lugar o uma pessoa?
    Não deveria haver respeito de todos os lados? Respeito com aqueles que pensam diferente do que a gente pensa?

    Acho que deveríamos entrar em uma era que, assim como nos anos 60 era baseada em “Paz e Amor”, se pautasse em “Paz e Respeito”.

    Você não precisa amar a todos, mas respeitar.

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Edgar, excelentes questionamentos.
      Vejo assim: para se chegar ao equilíbrio, naquelas balanças antigas com dois pratos, um em cada lado, coloca-se primeiro os pesos grandes e depois vai se ajustando com pesos menores.
      Até agora, temos vivido situações de acirramento de manifestações radicais, tentando mostrar força e poder. São os pesos maiores. Mas o equilíbrio precisa ser o foco. Aos poucos, pesos menores serão usados com este objetivo. Até se chegar ao equilíbrio.
      O valor “respeito” está baseado em fator cultural. Com a globalização, a evolução da tecnologia e a aceleração da comunicação entre os povos, é muito difícil assimilar (leia-se entender/aceitar/conviver) rapidamente valores inerentes a cada cultura, a cada religião existente. Daí o acirramento de manifestações. Até então.
      Espero, sinceramente, que o dia 7 de janeiro tenha sido o ápice. Agora, vamos aos ajustes.

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