Ao escrever meu último post, “Modigliani e o amor de Jeanne Hébuterne“, me veio a ideia de escrever sobre artistas mulheres que foram mulheres de artistas homens e, por isso mesmo, tornaram-se meras sombras de seus homens. Ou quase isso.
Inicio pela própria Jeanne Hébuterne (1898-1920). Tendo sido mulher de Amedeo Modigliani em seus três últimos anos de vida, ambos morreram muito jovens, ela com 21 e ele com 34 anos de vida. Ele de tuberculose meningítica e ela, grávida de seu segundo filho, cometendo suicídio um dia após a morte de Amedeo.
Menos de um século após sua morte, a obra de Modigliani é uma das mais valorizadas do mercado de arte, chegando algumas a dezenas de milhões de dólares. Enquanto isso, a obra de Jeanne Hébuterne é praticamente desconhecida.
Camille Claudel (1864-1943), deixou cedo a família por amor à escultura, sua paixão desde criança. Ela trabalhou vários anos a serviço de seu mestre Auguste Rodin, por quem foi secretamente apaixonada. Até hoje, às vezes um leigo se confunde em quem inspirou um ou copiou o outro . O tempo passou e Camille e Rodin se envolveram, e tiveram um caso ardente de amor. Mas Rodin não assumiu a relação e Camille, ferida e desorientada, ainda mais por descobrir que seu romance com Rodin não passou de uma aventura para ele, passou a nutrir por Rodin um estranho amor-ódio que a levou à paranoia e à loucura. Morreu em um sanatório, aos 79 anos de idade, após trinta anos de internação e desespero, passando todo esse tempo amarrada e sedada.
Hoje, as obras de Camille Claudel ocupam a sala de número 6 nas 16 salas do Museu Rodin, em Paris.
Dora Maar (1907-1997) foi uma fotógrafa, poeta e pintora francesa descendente de croatas. Pablo Picasso e Dora Maar foram apresentados pelo poeta Éluard no café Deux Magots, em St.-Germain-des-Prés, numa noite em janeiro, 1936. Dora Maar é mais conhecida por ter sido a mais bela e culta das amantes de Picasso, inspiradora de vários retratos. Sua relação durou 9 anos.
Dora fotografou a produção de Guernica e seria uma de suas figuras – a mulher horrorizada segurando uma lâmpada. Posou também para a série Mulher chorando. “Nunca pude imaginá-la a não ser chorando”, dizia Picasso. A fama e o talento de seu companheiro ofuscou o brilho de Dora, que era uma excelente fotógrafa. Suas imagens seguiam o estilo surrealista, muito influenciada por Man Ray e André Breton.
Gabriele Münter (1877-1962) foi uma pintora alemã do expressionismo, fotógrafa e salvadora das pinturas do movimento Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul“) durante a Segunda Guerra Mundial. No verão de 1903, Wassily Kandinsky comprometeu-se em matrimônio com Münter, apesar de estar ainda casado. Münter viveu abertamente com Kandisnky como amante, que só se divorciou em 1911. Viveram juntos até 1917.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Gabriele Münter escondeu mais de 80 obras de Kandinsky e outros membros do Blaue Reiter, além de obras próprias, salvando-as da destruição. Estas pinturas agora são exibidas na Lenbachhaus.
Hoje, Wassily Kandinsky é considerado o precursor da arte abstrata. Quantos conhecem a arte de Gabriele Münter?
Talvez essas artistas mulheres, mulheres de artistas homens, sejam muito mais do que sombras. Talvez tenham sido eclipsadas pelo brilho de seus homens. Talvez o tempo deste eclipse ainda esteja em curso. Talvez o seu brilho ainda esteja para acontecer. Afinal, tudo depende de quem olha para as estrelas…
Autor: Catherine Beltrão
Comments(4)
JULIANA NUNES RISSO says:
3 de maio de 2016 at 02:51Não conhecia nenhuma das mulheres do texto… adorei ter o prazer de ver um pouco deste outro lado da arte. Obrigada!
Catherine Beltrão says:
22 de maio de 2016 at 01:42Que bom que você gostou do post, Juliana! A ideia é essa mesmo: ir desvendando alguns segredos da arte e de artistas, conhecidos por poucos… um beijo!
Elisabete says:
16 de abril de 2019 at 19:47Amei, não conhecia nenhuma destas mulheres maravilhosas.
Impactante a escultura de Camille … muita dor e muito pensar, muita solidão….
Obrigada por dividir teu conhecimento.
Um abraço
Elisabete
Catherine Beltrão says:
18 de abril de 2019 at 14:41Obrigada, Elisabete. É muito gratificante quando vemos nossos escritos chegarem na alma e no coração de quem os lê.
Um abraço!