Artistas, mulheres e sombras

Ao escrever meu último post, “Modigliani e o amor de Jeanne Hébuterne“, me veio a ideia de escrever sobre artistas mulheres que foram mulheres de artistas homens e, por isso mesmo, tornaram-se meras sombras de seus homens. Ou quase isso.

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Jeanne Hébuterne, em 1917.

Inicio pela própria Jeanne Hébuterne (1898-1920). Tendo sido mulher de Amedeo Modigliani em seus três últimos anos de vida, ambos morreram muito jovens, ela com 21 e ele com 34 anos de vida. Ele de tuberculose meningítica e ela, grávida de seu segundo filho, cometendo suicídio um dia após a morte de Amedeo.

Menos de um século após sua morte, a obra de Modigliani é uma das mais valorizadas do mercado de arte, chegando algumas a dezenas de milhões de dólares. Enquanto isso, a obra de Jeanne Hébuterne é praticamente desconhecida.

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“Autorretrato”, de Jeanne Hébuterne

 

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Camille Claudel, aos 20 anos

Camille Claudel (1864-1943), deixou cedo a família por amor à escultura, sua paixão desde criança. Ela trabalhou vários anos a serviço de seu mestre Auguste Rodin, por quem foi secretamente apaixonada. Até hoje, às vezes um leigo se confunde em quem inspirou um ou copiou o outro . O tempo passou e Camille e Rodin se envolveram, e tiveram um caso ardente de amor. Mas Rodin não assumiu a relação e Camille, ferida e desorientada, ainda mais por descobrir que seu romance com Rodin não passou de uma aventura para ele, passou a nutrir por Rodin um estranho amor-ódio que a levou à paranoia e à loucura. Morreu em um sanatório, aos 79 anos de idade, após trinta anos de internação e desespero, passando todo esse tempo amarrada e sedada.

Hoje, as obras de Camille Claudel ocupam a sala de número 6 nas 16 salas do Museu Rodin, em Paris.

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“Profonde Pensée”, de Camille Claudel

 

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Dora Maar

Dora Maar (1907-1997) foi uma fotógrafa, poeta e pintora francesa descendente de croatas. Pablo Picasso e Dora Maar foram apresentados pelo poeta Éluard no café Deux Magots, em St.-Germain-des-Prés, numa noite em janeiro, 1936. Dora Maar é mais conhecida por ter sido a mais bela e culta das amantes de Picasso, inspiradora de vários retratos. Sua relação durou 9 anos.

Dora fotografou a produção de Guernica e seria uma de suas figuras – a mulher horrorizada segurando uma lâmpada. Posou também para a série Mulher chorando. “Nunca pude imaginá-la a não ser chorando”, dizia Picasso. A fama e o talento de seu companheiro ofuscou o brilho de Dora, que era uma excelente fotógrafa. Suas imagens seguiam o estilo surrealista, muito influenciada por Man Ray e André Breton.

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“Silêncio”, de Dora Maar

 

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Gabriele Munter

Gabriele Münter (1877-1962) foi uma pintora alemã do expressionismo, fotógrafa e salvadora das pinturas do movimento Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul“) durante a Segunda Guerra Mundial. No verão de 1903, Wassily Kandinsky comprometeu-se em matrimônio com Münter, apesar de estar ainda casado. Münter viveu abertamente com Kandisnky como amante, que só se divorciou em 1911. Viveram juntos até 1917.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Gabriele Münter escondeu mais de 80 obras de Kandinsky e outros membros do Blaue Reiter, além de obras próprias, salvando-as da destruição. Estas pinturas agora são exibidas na Lenbachhaus.

Hoje, Wassily Kandinsky é considerado o precursor da arte abstrata. Quantos conhecem a arte de Gabriele Münter?

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“Menina com fita vermelha”, de Gabriele Munter. 1908.

 

Talvez essas artistas mulheres, mulheres de artistas homens, sejam muito mais do que sombras. Talvez tenham sido eclipsadas pelo brilho de seus homens. Talvez o tempo deste eclipse ainda esteja em curso. Talvez o seu brilho ainda esteja para acontecer. Afinal, tudo depende de quem olha para as estrelas…

Autor: Catherine Beltrão

Comments(4)

  1. Responder
    JULIANA NUNES RISSO says:

    Não conhecia nenhuma das mulheres do texto… adorei ter o prazer de ver um pouco deste outro lado da arte. Obrigada!

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Que bom que você gostou do post, Juliana! A ideia é essa mesmo: ir desvendando alguns segredos da arte e de artistas, conhecidos por poucos… um beijo!

  2. Responder
    Elisabete says:

    Amei, não conhecia nenhuma destas mulheres maravilhosas.
    Impactante a escultura de Camille … muita dor e muito pensar, muita solidão….
    Obrigada por dividir teu conhecimento.
    Um abraço
    Elisabete

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Obrigada, Elisabete. É muito gratificante quando vemos nossos escritos chegarem na alma e no coração de quem os lê.
      Um abraço!

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