Não lembro o dia. Nem o mês. Só o ano: 1972. Neste dia, eu fui, uma vez mais, modelo de Edith. Edith Blin, minha avó. Edith, cúmplice de vida e de alma.
Minha avó me pintou 129 vezes, em 32 anos. Desde que eu nasci até a sua partida. Foram 32 anos de cumplicidade em 129 registros de amor.
Nas telas e no cotidiano com minha avó Edith, meu nome é Katia. Catherine é para os outros.
A cada vez que posava, um compositor se fazia presente: Bach, Chopin, Liszt, Debussy, Villa-Lobos. Não importa. A música nos unia.
Neste dia de 1972, deve ter sido Franz Liszt. Talvez a “Bénédiction de Dieu dans la solitude“, com Claudio Arrau ao piano.
E, como já escrevi em depoimento de 2006, acerca de ter sido modelo de Edith: “Hoje, percebo que esta comunhão e esta interação fundamentaram minha vida a tal ponto que a minha procura de felicidade passa através da Arte e de seu processo de criação.”
Ao lado, a obra “Retrato de Katia vestida de roxo, estilo marquesa.” Foi feita em 1972, a óleo sobre tela. Dimensão: 92 X 73cm. O vestido roxo era de veludo de seda, tendo sido de minha avó, quando jovem. O longo colar é feito de contas de âmbar. A gargantilha tem um pendente cujo desenho é um tucano feito com asas de borboleta. O vestido não existe mais. O colar e a gargantilha, sim.
Neste 8 de maio, Dia das Mães, quando o sentimento brota sem fazer esforço, a lembrança daquele dia em 1972, faz 44 anos já, traz para o presente o som e o cheiro de um daqueles momentos mágicos, partilhados com aquela que foi minha mãe de coração, mãe de alma, mãe de criação, mãe de Arte: minha avó Edith Blin.
Autor: Catherine Beltrão